O verbo principal. Talvez o vazio, o silêncio, o branco, o inexistente na
vez dele. Como se Penélope costurasse a manta ao longo do tempo ouvindo em fundo uma
máquina de escrever apenas com algumas consoantes. ‘Hdjt’ ou ‘Ljr’. Palavras
que se tornam eternas na sua incompreensão e nos devolvem o fundamento inicial
da linguagem e da literatura como a mais terna abstracção humana. O som que se
ouve é temporalmente inconsequente. A leitura que a autora faz dos seus ‘poemas
gráficos’ só ao presente diz respeito. Mas isso é mais tarde, em 2000. As
palavras retidas pela superfície reflectora do metal. «Global Writings»
(2000-2016).
Ou os riscos azuis da esferográfica que se adensam no centro circular. Tal linha de um novelo perdida em suave estrutura de poliéster. Infinito poema
elegia epopeia. «Avant-testo» (1998-2006).
Ou os livros costurados à mão, papel pergaminho e
tinta-da-china, doces, mansos. «Transcrizioni, Aussagen / testimonianze», 1976.
Até desaguarmos num mar azul de grandes telas verticais,
enormes páginas com várias linhas como ondas que vão e vêm segundo a
pacificação da leitura sonolenta de cada um dos leitores.
Irma Blank (nascida em 1934 na Alemanha) tem um trabalho
minucioso e raro, quase de relojoaria, diria fino, feminino, exaustivo, de
copista. São páginas múltiplas que, justapostas, presas por finos alfinetes,
exploram toda a nossa atenção. Notas de rodapé, pé de página, bibliografia, chamadas de
capítulo. Tudo começado em um ondular de letras trémulas «Eigenschriften» (1968)
que se vão estilizando em linhas simples mas afirmativas e concretas «Gehen-Second Life»
(2008). Meio século depois.
Irma Blank não responde. Apenas
tenta a pergunta universal.
Irma Blank não pergunta.
Apenas questiona por que terá o Esperanto falhado?
Irma Blank propõe olharmos no
fundo de cada uma das nossas buscas, de cada palavra sem sentido, através da pausa
da nossa visão que tenta dar sentido a essa palavra principal. Inicial.
Ou seja.
«Blank».
Só visto. Só sentido.
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