Milão.
Fevereiro de 1960. Antonio Dorigo, arquitecto, 49 anos, Fiat 600, bem tranquilo
na vida. Telefona à Srª Ermelina e pede para experimentar ‘um novo tecido bem
negro’. Assim, encontra Laide Anfossi. Não se considera um homem atraente ou
ágil na arte da sedução, nem acha no início a jovem propriamente muito bela. Porém,
acaba por se apaixonar como um louco.
Essa
travessia por uma Milão que renasce modernamente das cinzas da guerra e de um
passado de miséria que não se recusa a esconder é de uma incrível violência estética
e urbana, tal como foi Roma para Michelangelo Antonioni («O Eclipse», 1961).
Dino
Buzzati, expõe todas as técnicas narrativas, contrapondo os discursos directo e
indirecto, as falas interiores e aquelas outras ditadas pelo tropel dos
pensamentos recalcados, das cidades angustiadas e livres, para nos fazer crer
que, apesar de ser o autor de «O Deserto dos Tártaros», consegue sair do mundo
do existencialismo psicanalítico para nos fornecer um tratado maior sobre a
angústia da espera no Amor, o desespero do ciúme mas também um sumário ideológico
da sociedade milanesa. No final, Antonio encontra Piera, amiga (ou colega) de
Laide, que finalmente lhe explica como aquele mundo funciona e que são eles, os
clientes burgueses, que negam a alteração do “afectivo sistema de fidelidade” que o próprio
Antonio exige ser cumprido por Laide.
«– És
marxista, por acaso? – pergunta ele.
– Qual
marxista. Eu sou fascista. Que tem o marxismo a ver comigo? Não me agrada a
caridade cristã. Nunca perguntaste onde nasceu a Laide, em que ambiente
cresceu... – responde Piera.»
Também não é por acaso que Dino Buzzati cita «O Anjo Azul» (Josef von Sternberg, 1930).
Também não é por acaso que Dino Buzzati cita «O Anjo Azul» (Josef von Sternberg, 1930).
O Amor e
Milão transformam-se com este livro de Dino Buzzati. Também a angústia do tempo
que passa e não nos esclarece sobre o que fazer e como o fazer.
(Uma
bela sobrecapa de Luiz Duran!)
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