Este
livro de Mário de Carvalho está, para mim, leitor que gosta de agrupar temas,
entre dois dos livros do autor que os meus coração e atenção guardam entre os
relidos: «Quem Disser o Contrário É Porque Tem Razão» (2014) e «A Liberdade de
Pátio» (2013). E não será por acaso. O terceiro capítulo «Oficiando» completa e
sublinha, entre a paródia séria e advertência literária, muito do que o livro
de 2014 já tinha feito pela leitura, que se deseja cada vez mais atenta, e a
escrita, cada vez mais concisa e consciente. Os restantes três, sobre uma
possível ficção, uma provável intervenção, uma inevitável e justíssima memória,
fazem-me lembrar os textos curtos, quase fábulas, com homens, bichos, palavras
e aventura, que integram o melhor da literatura ‘curta’ portuguesa.
Chamaria
a estes últimos ‘contos’, retirar-lhes-ia a data e a vocação efémera de
‘actualidade’ que o jornalismo impõe a estes textos de perspectiva
multi-semanal. Afastaria ainda a índole pessoal que a persona do escritor deve
impor enquanto cronista, ajustaria o ‘abstracto temporal’ da publicação em
livro e atirar-me-ia à leitura sem olhar para o relógio. Assim fiz.
Pois
estes textos induzem à pausa para reflectir porque nos reflectem, à busca em
dicionários para buscar significados, aos mais rápidos priberans e googles na
pesquisa de referências e origens. Porque nos colocam no centro das questões
primeiras: por que ler? Por que escrever? Por que estar por aqui e a esta hora?
Se não
parecesse a alguém ofensivo, gostaria de dizer que Mário de Carvalho tem, nestes
textos, alguma coisa de bobo, dos verdadeiros, belos caricaturistas, dos que dizem, através de
uma graça inteligente e amável, a crítica que o rei nem sequer imaginou
aceitar, ou de padre, dos melhores, dos que aparecem em «Roma, Cidade Aberta»
de Rossellini, que apontam, ajudam acerrimamente a ponderar, mas não julgam.
Pena é
que o prefaciador, entre desculpas temporais e reverências solícitas, não tenha
conseguido enaltecer a irreverente pulsão juvenil do autor e a futura carga de
responsabilidade política e moral a que estes ‘contos’ obrigam agora a nossa
leitura.
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