Com
este filme, Joseph Losey rouba a Palma de Ouro em Cannes a «Morte em Veneza» de
Luchino Visconti. 1971.
E
como os dois filmes se tocam na pura teatralidade que dizem ser a génese do
romance mais apurado – o fim da inocência infantil, o início da descoberta da
vida adulta pelo conhecimento do desejo e pelo desejo do corpo. Só que no filme
de Visconti a parábola dos olhares e do silêncio de Gustav von Aschenbach (Dirk
Bogarde) é vista pelo lado inverso, retrospectivo, pelo momento derradeiro
sitiado pela epidemia de cólera e pela solidão da cidade de Veneza. Já no
teatro de Joseph Losey (e Harold Pinter) assistimos ao átomo inicial, à
descoberta do mundo adulto pelo olhar do pequeno e humilde ‘Leo’ Colston (Dominic
Guard) sitiado, ele também, nas malhas da alta sociedade da família Maudsley; pelos
muros, pelos jardins, pelas ruínas na sua mansão, em Norfolk.
Aquele
mundo nunca será o seu. Um mundo que o recebe numas férias encantadas na
companhia do seu amigo e colega Marcus (Richard Gibson), de modo generoso mas, igualmente,
de ostensivo desprezo. Um mundo que fica suspenso quando Leo repara na beleza da
irmã de Marcus, Marian (Julie Christie), repousando adormecida no jardim. Esse
universo que só iremos saber através do que observa uma criança que tanto deseja
conhecer como fugir do que já começa a suspeitar. Dentro de si e em seu redor.
Um
tempo iniciático e belo que, tal como com o músico Gustav von Aschenbach, contém, em
simultâneo, a chama do amor vital e o gelo das suas próprias cinzas.
Uma
obra-prima.
jef,
maio 2021
«The
Go-Between – O Mensageiro» de Joseph Losey. Com Julie Christie, Alan
Bates, Dominic Guard, Margaret Leighton, Michael
Redgrave, Michael Gough, Edward Fox, Richard Gibson, Simon Hume-Kendall,
Roger
Lloyd Pack, Amaryllis Garnett, Keith Buckley, John Rees, Gordon Richardson. Argumento:
Harold Pinter segundo romance de L.P. Hartley. Produção: John Heyman e Norman
Priggen. Fotografia: Gerry Fisher. Música: Michel Legrand. Guarda-roupa: John
Furniss. Grã-Bretanha, 1971, Cores, 116 min.
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