Este longo romance segue os passos do herói (ou anti-herói) Sparrow
Drinkwater desde a sua infância passada num hospício para doentes psiquiátricos
até ao seu final anti-sucesso financeiro que decorre num paraíso fiscal nas
Caraíbas. Contudo, a história fulcral é a da sua mãe, mulher libertária,
inteligente e esquizofrénica, Sheilagh Drinkwater que teima em afirmar que o
seu filho nasceu de um corvo, tem pena que aquele afinal não saiba voar e teima
em urinar ao ar livre, nos jardins.
Sparrow é manietado pelas tropelias de Sheilagh Drinkwater que começam
durante a guerra, entre 1940-1957, com as armas e os soldados por perto e continuam,
mais tarde, em Nova Orleães como pano de fundo, até chegar a Montreal, no
Canadá. Até ao quintal da Bruxa de Bloomfield Street e ao interior da rede de
túneis subterrâneos que acabam por ir pelos ares.
Depois entre 1958-1961, a idade adulta vai-se enraizando
entre o dever e o rancor, a investigação e a perseguição.
Mais tarde, no final, entre 1968-1991, Sparrow Drinkwater, pelo
interior de um outro labirinto, agora financeiro, juntará todas as personagens
com e contra as quais lutou toda a vida. Mas nessa ilha perdida, irá conquistar
um futuro que jamais será o dele.
Um romance longuíssimo com personagens bem delineadas
psicologicamente, apesar de surpreender ter sido escrito por capítulos com
estilo, extensão e motivação diferentes. Vendido como uma espécie de comédia entre a
realidade e a fantasia mas que deixa no leitor um sistemático lastro de
melancolia e revolta que nunca chega a ser emocionalmente resolvido.
Na tradição da escrita realista-fantástica nas Américas do
Norte existe um mestre: John Irving. Que vivam «O Estranho Mundo de Garp»
(1978) e o «O Hotel New Hampshire» (1981)!
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