Fim
de estação. Existe um ponto essencial no filme. O tempo do silêncio. A pausa da
câmara sobre uma estância de veraneio barata à beira-Turquia. Um espaço
invulgar que dá tempo à câmara para oferecer ao espectador o vazio do próprio
tempo que pode ser chamado tédio de Verão. Sophie (a magnífica Frankie
Corio) observa tudo, principalmente o pai, Calum (Paul Mescal), longe da mãe
divorciada, quase a sucumbir perante o amor pela filha e a angústia de um jovem
passado por resolver. Ali, nada há a fazer entre a praia, as diversões toscas
de toscos animadores, os tapetes ou os banhos turcos. O tempo sobeja para a
sintomática e lenta observação, para a pausada reflexão Tai Chi numa semana de
férias a dois, demasiado concreta.
O
melhor do filme é esse olhar sobre o maravilhoso, sobre amor com tempo e sol e
mar entre um pai e uma filha. Um olhar que vai construindo a história, talvez
como se Éric Rohmer sobrevoasse de parapente e os espreitasse
dissimuladamente entre os chapéus-se-sol.
Contudo,
a jovem realizadora quer explicar mais no seu muito interessante primeiro
filme. Parece querer explicar tudo, o passado e o futuro. Exemplificar toda a
ausência nostálgica que, por sinal, já está implícita no interior da espera
pelo fim daquelas férias sob o Sol resplandecente.
E, por vezes, explicar tudo não significa dar tudo a entender. Quantas vezes a explicação derrota a adesão mais profunda do espectador.
E Sófocles já melhor concedeu o beneplácito a Édipo.
jef,
janeiro 2023
«Aftersun»
de Charlotte Wells. Com Paul Mescal, Frankie Corio, Celia Rowlson-Hall, Sally
Messham, Ayse Parlak, Sophia Lamanova, Brooklyn Toulson, Spike Fearn, Harry
Perdios, Frank Corio, Ruby Thompson, Ethan James Smith, Onur Eksioglu, Cafer
Karahan, Kayleigh Coleman. Argumento: Charlotte Wells. Produção: Mark
Ceryak, Amy Jackson, Barry Jenkins. Fotografia: Gregory Oke. Música: Oliver
Coates. Reino Unido, EUA, 2022, Cores, 102 min.
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