Abbas
Kiarostami é uma alma maior. De um simples facto social (e político)
relacionado sobre a exigência da realização dos trabalhos de casa feita pelo
professor (e de um engano de cadernos escolares semelhantes) constrói um acto puramente
estético.
A partir desse acto estético observamos toda a sociedade rural iraniana desde
as suas raízes até a uma suposta renovação comercial. Por que razão será
necessário substituir as velhas e trabalhadas janelas e portas de madeira por
eternas portas de metal? Por que será que o bisavô de Ahmed por vezes se
esquecia da dar a semanada ao filho mas jamais se esquecia de lhe dar a tareia educativa?
Por que correrá tanto Ahmed, de aldeia para aldeia, entre os suplícios do tempo e da desobediência materna, para encontrar a casa do seu amigo Mohamed Reda Nematzadeh?
Cada
olhar angustiado de Ahmed contém toda a génese do que deveria ser a humanidade.
Cada plano arquitectural de Kiarostami é um fulgurante elogio à luz e à sombra renascentistas.
Cada uma das corridas de Ahmed entre colinas, uma alegoria à tenacidade e interajuda humanas. Uma espécie de via-sacra em prol da beleza e da
bondade. Ahmed poderia ser Cristo com o sofrimento, a determinação e a inocência
de uma criança que sabe estar a fazer a missão que lhe está atribuída. Mas
apenas em cumprimento da humana consciência.
A
última cena é inesquecível.
Sim,
têm razão. Uma obra-prima.
jef,
fevereiro 2023
«Onde
Fica a Casa do Meu Amigo?» (Khane-ye doust kodjast?) de
Abbas Kiarostami. Com Babek Ahmed Poor, Ahmed Ahmed Poor, Khodabakhsh Defaei, Iran
Outari, Ait Ansari, Sadika Taohidi, Biman Mouafi, Ali Djamali, Aziz Babai, Nader
Ghoulami, Akbar Mouradi, Teba Slimani. Argumento: Abbas Kiarostami. Produção:
Ali
Reza Zarrin. Fotografia: Farhad Saba. Música: Amine Allah Hessine. Irão, 1987, Cores,
84 min.
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