Longe
do ímpeto cinematográfico iraniano que nos tem deslumbrado nos últimos anos.
Bastante longe desse genial fazer cinema sem quase ter história, sem quase ter
verbas, sem ter liberdade para criar. Contudo (e este contudo é um contudo
bastante sublinhado), o realizador Ali Abbasi não se afasta do cinema social
para nos entregar a história de um pedreiro, veterano da guerra Irão-Iraque,
que na cidade santa Mashhad assume a missão profetizada de liquidar
prostitutas, paupérrimas e viciadas em heroína. O argumento persegue a perigosa
investigação da jornalista Rahimi (Zar Amir-Ebrahimi) sobre a actividade desse
predador divino Saeed Hanaei (Mehdi Bajestani) até à sua captura e julgamento.
Sempre filmado de muito perto, correndo, ansiando, sem omitir o sangue, a
violência, a degradação dos corpos, dos olhares, dos gestos. E como tudo na
história é medonho, desde a investidura religiosa para tais actos, ao desprezo
e cumplicidade policial e das autoridades políticas e judiciais. Acima de tudo,
ao apoio popular e familiar dos hediondos actos.
Um
filme de acção vibrante e sem rodeios mas que é marcado pela simplicidade
apressada, fechando os olhos à estética, de telefilme ou série televisiva.
jef,
janeiro 2023
«Holy
Spider» de Ali Abbasi. Com Zar Amir-Ebrahimi, Mehdi Bajestani, Arash Ashtiani,
Forouzan Jamshidnejad, Sina Parvaneh, Nima Akbarpour, Mesbah Taleb. Argumento: Ali
Abbasi, Afshin Kamran Bahrami. Produção: Ali Abbasi, Sol Bondy, Jacob
Jarek. Fotografia: Nadim Carlsen. Música: Martin Dirkov. Guarda-roupa: Hanadi
Khurma. Dinamarca, Alemanha, França, 2022, Cores, 116 min.
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