A
Força do Destino.
Um
precioso melodrama que toma a poética japonesa como ponto de partida para
contar uma história que se inicia com a fuga do professor de botânica, Kazuhiko
Onuma (Ken Uehara), para as montanhas alpinas japonesas, sendo aí acompanhado
por Tsuruko (Michiyo Kogure), sua secretária e depois amante. Kazuhiko
refugia-se do tumulto citadino, da derrota do Japão e do violento pós-guerra,
da invasão avassaladora de uma nova cultura “americana” que vai tentar pôr
termo aos ancestrais modos culturais nipónicos. De certo modo, o professor foge
também da sua mulher que vem para o confrontar com a sua relação
extra-cionjugal e a decisão própria em participar activamente na nova sociedade
japonesa.
Tudo
se passa na sucessão dos equinócios de Outono e das suas luas e nevoeiros, numa
série de episódios em flashback. A utilização do ciclo anual da natureza
florestal e da contida poesia japonesa, a linearidade dos decores, a fulcral
síntese dos diálogos, a fixação da câmara frente à expressão dos actores que
devolve ao espectador a proximidade insolúvel do futuro e a colocação ao longo
da narrativa dos sinais inevitáveis de um drama absoluto, deixam este belíssimo
filme na esfera da ópera verdiana, das histórias de Stefan Zweig e, acima de tudo, do respeito
carinhoso mas tenso entre gerações que marca a cinematografia do enorme
Yasujiro Ozu.
Um
drama sem mácula nem tempo.
jef,
novembro 2023
«O
Som do Nevoeiro» (Kiri no oto) de Hiroshi Shimizu. Com Michiyo Kogure, Ken
Uehara, Keizô Kawasaki, Keiko Fujita, Chieko Naniwa, Takeshi Sakamoto, Bontarô
Miake, Kumeko Urabe, Eijirô Yanagi. Argumento: Yoshikata Yoda, segundo o
romance de Hideji Hôjô. Produção: Masaichi Nagata. Fotografia: Sôichi Aisaka.
Música: Akira Ifukube. Japão, 1956, Preto e Branco, 84 min.
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