Nada
mais há a dizer quando passam 60 anos sobre o mais arquitectónico filme realizado
sobre a melancolia (ou o fado) ancestral de se ser português, de se viver permanentemente
no interior da nostalgia de um passado rural e no desconforto pela inevitabilidade
do futuro que chega para alterar as regras urbanas e morais de uma cidade que
ainda espera o nevoeiro de um tal Dom Sebastião.
O
primeiro filme realizado por Paulo Rocha e produzido por António da
Cunha Telles, protagonizado pela novíssima Isabel Ruth (Ilda) e pelo novíssimo
Rui Gomes (Júlio), busca os mais directos e sintécticos diálogos de Nuno
Bragança e coloca-os numa história tão simples quanto fulcral – o namoro quase
pueril entre a alegre Ilda e o tímido Júlio, que mais tarde descobrirá os simulacros
da traição e do ciúme, e termina na desmedida apoteose que o destino sempre
oferece às grandes tragédias clássicas.
É
a estratégia dos longos planos, da falsa linearidade dos decores e das
esquadrias perfeitas, dos ângulos rectos, dos pontos de fuga infinitos. O correr
da câmara junto das paredes olhando as velhas janelas ou os tectos desvalidos.
A estratégia de colocar frente a frente a moderna Lisboa “fascista” e a velha
baixa lisboeta ou o além-tejo monárquicos. A travessia do Tejo como salvaguarda
do presente ou culpa do que está para vir.
Esse
lento desmoronar do desejo, o declínio das expectativas.
O
assassínio da esperança num novo lugar numa nova urbe desde o início anunciado pelos
acordes de Carlos Paredes, ineludíveis.
Intocada
a beleza de um futuro nascido para o Novo Cinema Português. Presente e eterna.
jef,
novembro 2023
«Os
Verdes Anos» de Paulo Rocha. Com Rui Gomes, Isabel Ruth, Ruy Furtado, Paulo
Renato, Alberto Ghira, Cândida Lacerda, Carlos José Teixeira, Harry Wheeland, Irene
Dyne, Júlio Cleto, Óscar Acúrcio, Manoel de Oliveira, Carlos Jesus Alfonso, Olga
De Campos, Ruy Castelar, Manuel Bento, Victor Dias , Henriqueta Domingues, Joaquim Antonio Mendes. Argumento: Paulo
Rocha e Nuno Bragança (diálogos). Produção: António da Cunha Telles. Fotografia:
Luc Mirot. Música: Carlos Paredes. Guarda-roupa: Rafael Calado e Ada Cruz. Portugal,
1963, Preto e Branco, 84 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário