Ao
Correr do Tempo. Parece que Wim Wenders reencontrou o seu tempo, ou o tempo da
sua poesia, com «Dias Perfeitos». Voltou a sussurrar-nos que o silêncio é de
ouro e o tempo é de prata numa obra que já fazia falta aos dias que hoje correm, ansiosos e perturbados, contrariando a desdita destes.
Um
filme que pela beleza circunspecta nos obriga a olhar para dentro de nós. Afinal,
o despojamento e a contemplação serão os alicerces de uma vida que ainda se
deseja futura.
Ao
seu melhor e velho estilo, Wim Wenders conta-nos a história de Hirayama, o
empregado de limpeza das ultra-modernas casas de banho em Tokyo (não é de
estranhar que o realizador se tenha apaixonado pela respectiva arquitectura)
através de episódios singulares que, aos poucos, se justapõem dando corpo ao
silêncio interpretado pelo magnífico actor Koji Yakusho. Toda a narrativa
se dirige para e pela sua expressão, dando talvez azo a um neo-expressionismo
alemão que, não fossem as maravilhosas canções que saem das (agora tão modernas)
velhas cassetes áudio (além do ruído suburbano), poderia ser contemplado como um
filme mudo.
Afinal,
a história da estoica rotina e do ascetismo silencioso de Hirayama está contida
nessa determinação, onde a tonalidade moral, aqui ora cómica ora trágica, acompanha
a das velhas parábolas espirituais – os pobres-ricos Job ou Sidarta que o digam.
O filme acarinha o desejo e a necessidade urgentes de mudança do paradigma das depressivas sociedades contemporâneas.
Um
filme maravilhoso para terminar em grande 2023!
jef,
dezembro 2023
«Dias
Perfeitos» (Perfect Days) de Wim Wenders. Com Koji Yakusho, Min Tanaka, Arisa
Nakano, Tokio Emoto, Aoi Yamada, Yumi Aso, Sayuri Ishikawa, Tomokazu Miura. Argumento:
Takuma Takasaki e Wim Wenders. Produção: Wim Wenders, Takuma Takasaki, Koji
Yanai. Fotografia: Franz Lustig. Alemanha / Japão, 2023, Cores, 123 min.
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