É
impossível não referir logo de início os seus 82 anos. É espantoso como Vitorino sempre se reinventa nunca ultrapassar os limites da sua ilimitada persona
e personalidade musicais.
Ainda
estamos no Redondo, ainda estamos em Lisboa. Um lugar ora luminoso ora melancólico que é só de Vitorino
mas que nos pertence por inteiro. Há muito.
Dedicado
ao Sr. Arnaldo Trindade que assim dizia, gente da terra, de profundidade
filosófica e talvez carpinteiro, usando sempre fato-de-macaco: «Não sei do que
é que se trata mas não concordo!», a primeira das 11 canções. Um coro repete
algo fantasmagórico, um vago tom menor, talvez de tango argentino, encenando o
contraditório – “compromisso com o homem na total felicidade exigida, desejada,
sempre querida!”.
Depois,
logo muda em versão “marcha-popular-charleston”, «Moda Revolta» (sem idade, que todos
os anos em Abril traz o vermelho da revolta) ou o dueto com Cuca Roseta «Para
Quando Eu te Encontrar», de Sérgio Costa, um fado-ranchero, ou depois a canção de
embalar cabo-verdiana «Terra Tão Longe». Ou «Por Ela», um bolero versão Ritz
Club, versão de baile ou em versão roufenha para velho rádio de pilhas.
Ao
meio está «Cravos Vermelhos» com letra de Florbela Espanca, que poderia ter sido gravada
numa desaparecida esquina parisiense. A seguir a letra vem de Carlos Mota de
Oliveira «Uma Pontinha por Ti» com um romantismo irónico e sinfónico.
O
tom melodramático chega com «Não é Meia Noite Quem Quer», a letra de António
Lobo Antunes, segue com o cançonetismo de «Santo e Senha» (letra de Miguel
Torga e música de José Cid).
Para
terminar em modo requiem «Pai» com letra de José Jorge Letria, a lembrar certas
linhas musicais de José Afonso.
Vitorino continua a ser aquela peça musical de resistência, namoro, divertimento e memória que todos precisamos visitar nos dias sombrios e angustiados que andamos por aqui e por ali a viver.
É justo referir que quase todos os arranjos são do músico Sérgio Costa.
março de 2025