segunda-feira, 3 de março de 2025

Sobre o disco «São Jorge» de Jonas, SPA / Valentim de Carvalho 2020



 






 

Tento a ficha técnica neste disco de quase fado. Viro-o, reviro-o e não encontro. Nem o autor dos poemas ou da música nem o nome dos músicos. Apenas diz ser dedicado a dois santos: Francisco de Assis Vasconcelos e, claro, o sempre santificado Jorge Fernando.

E digo que é um disco de quase fado, pois esta dúzia de canções acarinha de tal modo a poesia que traz dentro que é impossível não ficarmos presos à leitura de cada história contada, esquecendo-nos (com uma terrível injustiça) da beleza melódica e dos arranjos de cada uma dessas crónicas. Claro, são histórias afadistadas que nos contam a modernidade da cidade de Lisboa, introduzidas pelo introito particular, explicando à infância e ao povo (e a Einstein, acima de tudo!) a confusão existencial da física superior. Precisamente, «Quântica». São ainda histórias tristes e contemporâneas de uma Lisboa que, afinal, acabamos de conhecer: «Ponto Final», «Lisboa Montra de Recuerdos», «Big Brother» ou «RBNB». Também canção de revolta, «Insegurança Social». A sombra da melancolia, fuga e ausência, «Jacarandá» ou «Fui Comprar Tabaco». Ou a ironia bem disposta de «Carros e Carrinhas e Carroças» e «Caravana», sem dúvida crónicas de um passado bem vivido sobre rodas. Para não falar de «Provérbio ao Contrário».

Mas sobre tudo, sobre esse manancial de canções lisboetas fica a melódica, afinadíssima, irresistivelmente timbrada e ampla, quase sarcástica e de dicção irrepreensível, sobrevoando, voz tão dramática que se torna teatral do, afinal, grande fadista, também quase santo, de nome Jonas.

(E quem resiste à tão portuguesa quanto afrancesada «Senhor Bonfim»?)


jef, março 2025


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