Tento
a ficha técnica neste disco de quase fado. Viro-o, reviro-o e não encontro. Nem
o autor dos poemas ou da música nem o nome dos músicos. Apenas diz ser dedicado
a dois santos: Francisco de Assis Vasconcelos e, claro, o sempre santificado
Jorge Fernando.
E
digo que é um disco de quase fado, pois esta dúzia de canções acarinha de tal modo
a poesia que traz dentro que é impossível não ficarmos presos à leitura de cada
história contada, esquecendo-nos (com uma terrível injustiça) da beleza
melódica e dos arranjos de cada uma dessas crónicas. Claro, são histórias
afadistadas que nos contam a modernidade da cidade de Lisboa, introduzidas pelo
introito particular, explicando à infância e ao povo (e a Einstein, acima de
tudo!) a confusão existencial da física superior. Precisamente, «Quântica». São
ainda histórias tristes e contemporâneas de uma Lisboa que, afinal, acabamos de
conhecer: «Ponto Final», «Lisboa Montra de Recuerdos», «Big Brother» ou «RBNB».
Também canção de revolta, «Insegurança Social». A sombra da melancolia, fuga e ausência,
«Jacarandá» ou «Fui Comprar Tabaco». Ou a ironia bem disposta de «Carros e
Carrinhas e Carroças» e «Caravana», sem dúvida crónicas de um passado bem
vivido sobre rodas. Para não falar de «Provérbio ao Contrário».
Mas
sobre tudo, sobre esse manancial de canções lisboetas fica a melódica,
afinadíssima, irresistivelmente timbrada e ampla, quase sarcástica e de dicção irrepreensível,
sobrevoando, voz tão dramática que se torna teatral do, afinal, grande
fadista, também quase santo, de nome Jonas.
(E
quem resiste à tão portuguesa quanto afrancesada «Senhor Bonfim»?)
jef,
março 2025
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