Jonas
dá largas ao curso da sua voz magnífica. Também da irreverente criatividade
artística. Afasta-se da coerência do disco «São Jorge» (2020) mas, sem dúvida,
fadista ele é (“Pai de Santo”, “Sol Solidão”, “Fado Bipolar”, “Ira”)!
Mas
não fica quieto, não desdenha outros ritmos, harmonias ou acordes (maiores
ou menores), venham elas do grande Andaluz (“Bato à Porta”, “Severa y la
Virgen”, “Ira”), do grande Brasil (“Pai de Santo”, “Vaidade – Lundu Marajoara”,
“Preguiça”), talvez do grande Cabo Verde (“Mouraria Moirama”), da grande
Argentina tanguista (“Luxúria”), do grande Alentejo sofrido (“Gula”), da velha
e grande Idanha-a-Nova / Monsanto (“Soberba”). Também das ruas da grande Lisboa
(“Papagaio Verde”, “Vaidade – Lundu Marajoara”). E da grande Líbido, do infinito Amor
(“Maçã d’Adão”, “Bato à Porta”, “Luxúria”, “Sol Solidão, “Soberba”).
Um disco que abre com “Maçã d’Adão” em ritmo de contrabaixo swingado, uma canção que acelera depois quase desesperadamente, e termina com “Mouraria Moirama” em compasso crioulo ainda mais dançável.
Disco
que só nos compreende à quinta audição seguida, obrigando depois a outras tantas audições sem parar. Os poemas e as músicas são quase todas de Jonas (confirmando que o
disco anterior será integralmente da sua autoria). Assim como toda a produção musical. Os
coros masculinos transformam-no em definitivo, assim como as cordas (Tiago
Valentim – viola de fado, Yami Aloelela – baixo, Bernardo Romão e Acácio
Barbosa – guitarra portuguesa).
Enfim,
ouvindo bem, em «Maçã d’Adão» talvez o pecado da incoerência seja mesmo o seu
maior privilégio.
jef,
março 2025
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