É o primeiro livro de contos de Teresa Veiga que leio. Sete
contos, para informação. Logo me toca esse lado rigoroso mas desprendido de nos
colocar no lugar certo, na certa geografia. Confesso que os livros também me
prendem pela descrição das arquitecturas onde as personagens circulam (sempre
me atraíram as descrições de Eça de Queirós ou Júlio Verne). Os muros a
isolarem a estalagem de Aldebarã no final de uma estrada local. O bosque com o
riacho e uma ponte onde uma mulher se debruça alheada. Um edifício de pedra
branca colocado no centro de um jardim cuidado à japonesa. A cidade dentro da
qual alguém se perde pelas ruas mal cuidadas dos seus subúrbios. Uma
casa grande onde atrás das portas se ouvem os sons do violino e do piano, com uma entrada pelas traseiras onde o chão possui um quadriculado de
mosaicos pretos e brancos. O enorme casarão com umas escadas no interior onde
alguém, bêbado, se debruça aos berros. Um restaurante com uma sala discreta que
guarda a intimidade, no almoço de sobremesas partilhadas, de duas amigas.
Dona Mena e Dona Laura.
Dentro dos contos, as mulheres circulam, determinadas,
umas com sentido, outras sem ele, um pouco perdidas, mas sempre de semblante
forte, em posição altiva, talvez mesmo adversa. As histórias, essas, nunca são
as que esperamos, entre o mistério, a fantasia, talvez, por vezes, a raiar o
policial.
E como a minha cabeça liga-se através de um algoritmo neurológico,
lembrei de «Myra» de Maria Velho da Costa (2008), de «As Noites das Mulheres
Cantoras» de Lídia Jorge (2011), de «Visitar Amigos e Outros Contos» de Luísa
Costa Gomes (2024) ou «Antes do Degelo» de Agustina Bessa-Luís (2004). (Longe
estão as serenas e melancólicas Maria Judite de Carvalho ou
Maria Ondina Braga, também elas magníficas!)
Contudo, detesto separar escritas por género e sensibilidades,
apesar de o ter feito exactamente no parágrafo anterior, culpa minha! Existe
nestes contos um certo ambiente de mundos paralelos, de insólito e obscuridade fantasiosos, de insatisfação culpabilizada ou as casas com portas por
franquear, também de inconstância filosófica. Por isso veio ainda à memória «Os Passos em
Volta» de Herberto Helder (1963) ou «A Liberdade de Pátio» de Mário de Carvalho
(2013). Inclusive, o primeiro conto deste livro “A Estalagem de Aldebarã”
recordou-me «O Barão» de Branquinho da Fonseca (1942). E isso é muito bom.
jef, março 2025
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