sábado, 1 de março de 2025

Sobre o filme «Mulholland Drive» de David Lynch, 2001

 












Quase um quarto de século depois (e na magnífica cópia digital restaurada pelo realizador), «Mulholland Drive» é, como sempre foi, um objecto de cinema único, perene. Um objecto onde todas as sobreposições se tornam agora definitivamente claras. Do percurso nocturno de automóvel pela Mulholland Drive, transportando Camilla Rhodes ou Rita (Laura Harring) até à chegada ao Teatro Silencio, pela madrugada, de Rita ou Camilla Rhodes acompanhada de Betty Elms ou Diane Selwyn (Naomi Watts) para, entre lágrimas, ouvirmos “Llorando / Crying”. Uma caixa de estranha fechadura esclarece-nos sobre a sobreposição final, desvendando-nos aquilo que não pode ser desvendado. Esclarece-nos ainda, oniricamente (ou psicanaliticamente), como as personagens se podem duplicar e transfigurar. Tudo é estratificado pelo medo e pela respectiva transfiguração. Afinal, o cinema em Hollywood é, deste modo, simples e claro. Desde «O Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard» (Billy Wider, 1950). Uma espécie de tragédia cómica, muito negra e muito bela, onde os realizadores se escondem (ou fogem) da produção feroz e as actrizes, louras ou morenas (ou ruivas) impõem e sofrem pela própria fotogenia cinematográfica.

Afinal, só poderemos entender esta história de amor e trevas, de sonho e cinema, também a sua banda sonora (Angelo Badalamenti), os cenários (Jack Fisk), a sua cor e a sua luz (Peter Deming), o guarda-roupa de Amy Stofsky, se não insistirmos em entendê-la. A decisão está absolutamente nas mãos do espectador.


jef, fevereiro 2025

«Mulholland Drive» de David Lynch. Com Naomi Watts, Laura Harring, Justin Theroux, Ann Miller, Jeanne Bates, Dan Birnbaum, Randall Wulff, Robert Forster, Brent Briscoe, Maya Bond, Patrick Fischler, Michael Cooke, Bonnie Aarons, Michael J. Anderson, Joseph Kearney, Enrique Buelna, Richard Mead, Sean Everett, Angelo Badalamenti, Dan Hedaya, Daniel Rey, David Schroeder, Robert Katims, Marcus Graham, Tom Morris, Melissa George, Mark Pellegrino, Vincent Castellanos, Diane Nelson, Charles Croughwell, Rena Riffel. Argumento: David Lynch. Produção: Neal Edelstein , Joyce Eliason, Tony Krantz, Michael Polaire, Alain Sarde, Mary Sweeney. Fotografia: Peter Deming. Música: Angelo Badalamenti . Guarda-roupa: Amy Stofsky. Cenografia: Jack Fisk. EUA / França, 2001, Cores, 147 min.

 

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