quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Sobre o filme «Onde Aterrar» de Hal Hartley, 2025

 






















Feito em casa própria e com muito esmero, muita consciência. Muita amabilidade.

Hal Hartley é uma espécie da essência (ainda) que transporta Nova Iorque para o lugar da humanidade e do respectivo coração. Faz com que os Estados Unidos da América regressem ao lugar de onde nunca deveriam ter saído. Qualquer coisa entre Woody Allen e Jim Jarmusch.

Uma peça de teatro onde o palco, esse escritório-casa de Joe Fulton (Bill Sage), o cineasta de comédias românticas que começa a pensar na aposentação, é mantido com a porta no trinco para que todos possam entrar, cada qual com uma ideia diferente sobre a realidade de Joe.

Alguém sabe que ele contactou uma advogada para o ajudar a redigir o testamento. Alguém sabe que ele, ateu convicto, teve uma reunião na igreja. Alguém tem na mão uma carta fechada vinda de um hospital. Alguém suspeita que ele é seu pai e que namora uma actriz para a qual esse alguém escreveu um argumento de uma série.

Tudo, em modo filosófico e com muitas palavras, vai sendo reposto entre a preocupação, o amor, a amizade e a cumplicidade.

No filme não existe nada de mal. Apenas a tranquila aproximação de um final lógico e o desejo da sua resolução pacífica. Fazer a lista dos objectos desnecessários, da propriedade e dos direitos autorais para os destinar a quem os mereça, destralhar a casa e procurar um emprego braçal no jardim do cemitério para se aproximar da Natureza.

Resumindo: treinar agora a fundamental “inutilidade prática”!

Um filme para quem reconhece com parcimónia e algum divertimento o rodar inelutável dos ponteiros do relógio e das folhas no calendário.

Um filme fundamental contra-corrente, um sereno combate à ignomínia e à infâmia dos dias economicamente políticos e histriónicos que hoje vivemos.


jef, dezembro 2025

«Onde Aterrar» (Where to Land) de Hal Hartley. Com Bill Sage, Kim Taff, Katelyn Sparks, Robert John Burke, Gia Crovatin, Jennifer Stepanyk, Jeremy Hendrik, Aida Johannes, Joshua Blair, Fermin Padilla III, Lynda Suarez, Joe Perrino, Katelyn Sparks, King Mustafa Obafemi. Argumento: Hal Hartley. Produção: Hal Hartley, Amer Hilal, Timothy Latimer, Jeremy M. Matthews, Randall Moore, Adam Schoon, Don Thompson. Fotografia: Sarah Cawley. Música: Hal Hartley. Guarda-roupa: Kerry Hassler. EUA, 2025, Cores, 75 min.

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