terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Sobre a peça «A Velha Senhora» de Márcia Cardoso. Cine-Teatro Turim, 2025.



 

















































Ouve-se «Os Vampiros» de José Afonso (1963).

Passam cinquenta anos do 25 de abril de 1974, e o melhor sangue da Quinta da Marinha conspurca-se com o pior da Cova da Moura. Já nada parece estar seguro para a requintada família de vampiros que se resguarda numa mansão em Sintra… Bem, Sintra não é bem, mais Rio de Mouro… E naquele dia de 2024, na Avenida da Liberdade, durante a manifestação, o sangue recolhido a custo pelo esforçado e algo desprezado Gino, ou Higino (Ricardo Barbosa), sabe um pouco a comunista. Problema grave…

Que fazer?

O melhor é voltar às origens e apelar ao regresso da Velha Senhora (António Ignês) que surge cantando «Desfolhada» (Simone de Oliveira / Nuno Nazareth Fernandes / Ary dos Santos, 1969). A dita Senhora parece encantada com o actual avanço das notícias falsas, do totalitarismo fascista, das alterações climáticas. Contudo, as suas intenções, a sua presença durante um ano naquela casa, estão a levar ao desespero de quem a invocou…

Hoje em dia, o teatro voltou a ter um papel importante na cultura portuguesa. Tornou-se politicamente activo, despretensiou-se, libertou-se de amarras sociais, de guetos culturais ou espartilhos intelectuais. O teatro em Portugal não tem patronos arregimentados ou tiques eufemísticos. Enche salas, convoca a consciência dos espectadores, diverte-os. Chama-os à razão assumindo-se como a arte popular por excelência. Sem rodriguinhos ou pudor.

«A Velha Senhora» é um óptimo exemplo. Devemos ter muita atenção ao esforço artístico de produção que o sustenta pois, apesar de pujante, o teatro em Portugal só sobrevive pelo absoluto amor à arte e ao esforço de sobrevivência de quem por ele continua a lutar.

Vampiros de todo o Mundo, uni-vos!

Temos de ir ao teatro!


jef, 7 de Dezembro de 2025

«A Velha Senhora». Texto e encenação: Márcia Cardoso. Com António Ignês (a Velha Senhora), Diana Vaz (Salete), Francisco Beatriz (Salazar), Marta Gil (Marcela), Ricardo Barbosa (Higino), o Gato Preto (Cunhal). Voz: João Tempera. Assistência de encenação: Joana Almeida. Desenho de Luz e Sonoplastia: Paulo Rodrigues, Rúben Brandão. Figurinos: João Telmo. Guarda-roupa: Besta de Estilo. Produção: Meia Palavra Basta – Associação Cultural. 110 minutos.

 

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