Ouve-se «Os Vampiros» de José Afonso (1963).
Passam cinquenta anos do 25 de abril de 1974, e o melhor
sangue da Quinta da Marinha conspurca-se com o pior da Cova da Moura. Já nada
parece estar seguro para a requintada família de vampiros que se resguarda numa
mansão em Sintra… Bem, Sintra não é bem, mais Rio de Mouro… E naquele dia de
2024, na Avenida da Liberdade, durante a manifestação, o sangue recolhido a
custo pelo esforçado e algo desprezado Gino, ou Higino (Ricardo Barbosa), sabe um
pouco a comunista. Problema grave…
Que fazer?
O melhor é voltar às origens e apelar ao regresso da Velha
Senhora (António Ignês) que surge cantando «Desfolhada» (Simone de Oliveira / Nuno
Nazareth Fernandes / Ary dos Santos, 1969). A dita Senhora parece encantada com
o actual avanço das notícias falsas, do totalitarismo fascista, das alterações
climáticas. Contudo, as suas intenções, a sua presença durante um
ano naquela casa, estão a levar ao desespero de quem a invocou…
Hoje em dia, o teatro voltou a ter um papel importante na
cultura portuguesa. Tornou-se politicamente activo, despretensiou-se,
libertou-se de amarras sociais, de guetos culturais ou espartilhos intelectuais.
O teatro em Portugal não tem patronos arregimentados ou tiques eufemísticos. Enche salas, convoca a consciência dos espectadores,
diverte-os. Chama-os à razão assumindo-se como a arte popular por excelência.
Sem rodriguinhos ou pudor.
«A Velha Senhora» é um óptimo exemplo. Devemos ter muita
atenção ao esforço artístico de produção que o sustenta pois, apesar de pujante,
o teatro em Portugal só sobrevive pelo absoluto amor à arte e ao esforço de sobrevivência
de quem por ele continua a lutar.
Vampiros de todo o Mundo, uni-vos!
Temos de ir ao teatro!
jef, 7 de Dezembro de 2025
«A Velha Senhora». Texto e encenação: Márcia Cardoso. Com António
Ignês (a Velha Senhora), Diana Vaz (Salete), Francisco Beatriz (Salazar), Marta
Gil (Marcela), Ricardo Barbosa (Higino), o Gato Preto (Cunhal). Voz: João
Tempera. Assistência de encenação: Joana Almeida. Desenho de Luz e Sonoplastia:
Paulo Rodrigues, Rúben Brandão. Figurinos: João Telmo. Guarda-roupa: Besta de
Estilo. Produção: Meia Palavra Basta – Associação Cultural. 110 minutos.







Sem comentários:
Enviar um comentário