Fico sempre dividido quando começam a aparecer no cinema os
filmes dos óscares. Vou ou não vou vê-los, eis a questão. Não entendo muito bem
porque têm, a maior parte deles, esta obrigação “pedagógica” de tocar, em veia enciclopédica, quase pueril, os traumas recorrentes da grande nação americana,
traumas que se iniciaram muito antes de ter aparecido a gravata vermelha do Trump. Traumas justos sobre questões hediondas.
É o caso real de um virtuoso pianista negro de formação
erudita mas a tocar em trio de jazz, Don Shirley (Mahershala Ali), que contrata
um motorista branco, de origem italiana, Tony Lip (Viggo Mortensen), para o levar em tournée pelos
estados americanos do Sul. 1962. Um e outro confrontam-se ao longo da viagem
com as características genéticas e culturais das suas próprias origens, também
com os conceitos e preconceitos de um país enorme mas repleto de tradições e
contradições abjectas.
Tudo acaba em bem, felizmente, na ceia de Natal e com uma
longuíssima amizade, como indicam as notas no epílogo, tentando o realizador casar
os «Amigos Improváveis» (Olivier Nakache e Éric Toledano, 2011) com «Do Céu
Caiu uma Estrela» (Frank Capra, 1946).
Mas por que terá de ser tudo assim tão apalhaçado, tão linear
e inflexível? Haverá razão para que todos os personagens sejam pintados como
clichés dizendo as deixas um segundo depois do esperado enquanto belos carros coloridos
cruzam as estradas num modo mais de museu do que de cinema?
Fica a banda sonora e a intenção (que na arte também é importante!)
jef, fevereiro 2019
«Green Book - Um Guia Para a Vida» (Green
Book) de Peter Farrelly. Com Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini,
Dimeter Marinov, Mke Hatton, Iqbal Theba, Sebastian Maniscalco, P. J. Byrne.
Música: Kris Bowers; Fotografia: Sean Porter. EUA, 2018, Cores, 130 min.
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