quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Sobre o disco «Manga» de Mayra Andrade, Columbia / Sony, 2019











Mayra Andrade sempre me encantou no modo de criar um mundo muito puro, quase inocente, para não dizer ingénuo, em não ceder a estratégias mais ou menos folclóricas, recusando enveredar pelo fácil caminho da soul e do funk que agora invade toda a pop-simples com berros e revérberos ‘kuduro’ de trazer por casa e latinices ‘rickymartin’ para animar festas de despedida de solteiro.

Mayra Andrade tem na mão a super-produção musical mas recusa abdicar do seu lado suave de colocar letras em português e em crioulo no suave timbre da sua voz. Também não abdica em dar otom dançável do funaná mesmo que lhe misture a electrónica de ritmos e ecos de anos quase ancestrais. Também não recusa misturar-lhe o acústico das cordas nos mais simples poemas, nas mais simples melodias, de Sara Tavares ou Luisa Sobral.

É, acima de tudo, uma bela voz que interpreta poemas.

Temos ainda «Afeto», «Manga» ou «Vapor di Migrason» da própria Mayra com a mais moderna simplicidade dançante ou, a fechar, «Badia» (Nivaldo leite / Luis Gomes) e «Festa Sto Santiago» (Tibau Tavares), recuperando os limites musicais e aquáticos das ilhas mais amorosas do mundo.

«Manga» lembrará, por vezes, a liberdade contemporânea de Elida Almeida ou a pujança tradicional de Lucibela mas confirma que a sua autora tem a interpretação dos poemas na voz e o tónus vital cabo-verdiano na alma, no coração e nos pés! Música e morabeza!

jef, fevereiro 2019

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