A.
Quando o Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português,
em 1940, recebeu a obra «Café» de Candido Portinari foi olhada por milhares de
portugueses que iam passear e divertir-se à feira. Portinari pintava ou (ilustrava)
o trabalho de quem trabalhava nos campos de café, usando essa técnica muito
dele de misturar o realismo, o naturalismo, até essa forma quase cubista de
ampliar de modo extravagante e bela os músculos dos trabalhadores povo,
escondendo-lhes o olhar sob o peso da safra. «Café» foi considerada um
verdadeiro cavalo de Tróia que entrava no coração do maior evento de propaganda
do regime. Estava a Europa em guerra e parte da beira-rio de Lisboa havia sido
arrasada para ali se edificar aquela exposição mundial.
B.
É com comovente ternura e excitação que, em 1946, Mário
Dionísio recebe a notícia que Portinari, a caminho de Itália, deseja vir conhecer
o pintor e escritor português. Mário Dionísio havia tomado conhecimento da
existência do pintor brasileiro através das imagens impressas numa folha de
jornal que, um dia de ventania invernosa, se lhe tinha vindo enrodilhar nas
pernas. A amizade perdurou e o escritor português realizou um importante
trabalho sobre Portinari, publicado 20 anos depois.
C.
Ferreira de Castro em 1955 escreve a Portinari para que ele
ilustre uma edição de luxo comemorativa da edição do romance «A Selva». O
pintor deixou para trás outras encomendas e lançou-se ao trabalho magnífico sobre
a obra maior de Ferreira de Castro.
D.
Tudo isto está inscrito nas salas do Museu do Neo-Realismo em
Vila Franca de Xira, até 3 de Março de 2019. Com clareza, inteligência e uma enorme
sensibilidade expositiva, quase carinho.
... e a tela «Café» está ali exposta, vinda do Museu de Belas-Artes
do Rio de Janeiro…
… e eu relembro como os meus pais falavam com admiração de Portinari,
me deram a ler «A Selva» e eu, mais tarde, por influência da minha mãe, adquiri
a obra «A Paleta e o Mundo» de Mário Dionísio… Artistas muito cá da casa!
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