Terei
visto o filme em 1983. E com alguma cautela pelo tempo que passa pelos filmes e
por nós, voltei a vê-lo ontem numa cópia em película 35mm riscada a sublinhar a
beleza da fotografia de Acácio de Almeida. 36 anos passaram, Lisboa mudou, e
envelheceu do ponto de vista turístico, Bruno Ganz desapareceu.
Mas
o filme continua a fazer sentido nesse modo poeticamente bruto de colocar o
marinheiro suíço Paul (Bruno Ganz), desembarcado em encalorada Lisboa, a
apaixonar-se por uma rapariguinha empregada de balcão e criada de quarto com
apenas um ordenado (Teresa Madruga). Os
longos lençóis brancos pendurados continuam ao som da música de Jean-Luc
Barbier. As galinhas có-có saltam ainda nos degraus de Alfama. O eléctrico 28
permanece. A quase morte diluída na abstracção das pedras das calçadas e nas
águas do Tejo. Bruno Ganz reflecte a luz e mostra como é o actor da sinceridade
dramática, do espelho emocional que transforma Paul numa espécie de ermita
urbano sorridente, navegando entre a paixão e o esquecimento. Teresa Madruga
dá-nos o lado absoluto da juventude e da vocação pela procura sem destino à
vista. Olhando e vendo o filme não é necessário ir ao dicionário para conhecer
o que significa os seus pontos cardeais: a espera, a liberdade, a solidão e a
ausência.
jef,
fevereiro 2019
«A
Cidade Branca» (Dans la Ville Blanche) de Alain Tanner. Com Bruno Ganz, Teresa
Madruga, Julia Vonderlinn, Joana Vicente, Lídia Franco, Pedro Efe, José
Wallenstein, Francisco Baião, Cecília Guimarães, José Carvalho. Fotografia:
Acácio de Almeida. Produção: Filmograph SA, Metro Filmes. Música: Jean-Luc
Barbier. Suiça / Portugal, 1983, Cores, 108 min.
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