Nestas
coisas de ‘filmes de época’, vai-me ficando o vício de ir à net em busca de
qualquer coisa, apesar dos erros, das mentiras, das falsidades, que inundam tal
éter... Wikipédia forever!
A
saber. Parece que Anne teve um reinado curto de doze anos (1702-1714) mas foi
uma mulher de armas, unindo a Escócia à Inglaterra, formando a primeira Grã-Bretanha.
Foi uma rainha que fortaleceu o sistema parlamentar bi-partidário, entre os liberais
‘whigs’ e os conservadores ‘tories’. Pelo meio, as usuais contendas mais ou
menos sangrentas com a França. Sim, consta que esteve 17 vezes grávida, nenhum
dos filhos chegou à idade adulta, e tinha duas favoritas: Sarah Churchill,
duquesa de Marlborough, e Abigail Masham, a baronesa Masham, que a ajudaram nas
intrigas de quarto da ‘política democrática’.
Afinal,
não consta que a rainha Anne (Olivia Colman) tivesse assim uma saúde tão débil,
fosse lésbica, tomando-se de amores carnais, ora com Sarah Churchill (Rachel
Weisz) ora com Abigail Masham (Emma Stone), mantivesse 17 coelhos no quarto e
que fosse votada a luxuriosa e aguerrida vida no interior do seu sumptuoso
palácio, revestido a belas madeiras e tapeçarias de encher o olho.
Contudo,
existem fortes motivos para ver o filme. Acima de tudo, o facto de ser uma
possível tragédia transformada numa ostensiva comédia, onde brilham os
extraordinários fácies (em close-up) de actrizes maiores: Olivia Colman, Rachel
Weisz e Emma Stone, colocando-as no centro de uma intriga política de limites
bem palacianos, com dossel e tudo.
O
realizador Yorgos Lanthimos toma em mãos tão cativante cenário, tão exagerado
guarda-roupa, tão refinada banda sonora, tão estilizada iluminação, tão rico
portfólio de pecados capitais e ainda lhe acrescenta um oitavo: não pára de
filmar, ultrapassando a fronteira onde a decadência luxosa se transforma um
pouco em exibição inútil. Por que razão usa a lente “olho de peixe”
transformando todos os cenários em aquários convexos? Por que insiste na banda
sonora repetida de dois tons, contrabaixo e percussão? Por que recorre sistematicamente
à mesma escatologia para ‘enegrecer’ as cenas?
Se
quisesse usar assim o guarda-roupa devia rever «My Fair Lady» (George Cukor,
1964).
Se
quisesse usar o cenário e a escatologia podia dar uma espreitadela a «O
Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante Dela» (Peter Greenaway, 1989).
Se
desejasse usar a intriga da guerra e do palácio, da sedução e da mentira talvez
devesse rever «Barry Lyndon» (Stanley Kubrick, 1977).
Apesar
de tudo, um filme fora das guerras e das regras dos Óscares e de Hollywood. Também
por isso vale a ida ao cinema.
jef,
fevereiro 2019
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