Este
filme é sobre a tristeza do que ficou por dizer, por resolver, por desencantar.
Daniel Piazzolla, o seu filho, olha pela janela e passeia os olhos pela maqueta
da exposição que será realizada sobre o génio de seu pai. Relembra os dez anos
que passou sem lhe falar após ter-lhe dito que voltar a uma formação jazzística
já vivida é voltar para trás.
Daniel
vai ouvir as gravações das conversas que a sua irmã, Diana Piazzolla, teve com
o pai para a publicação de um livro sobre a vida do célebre bandoneonista. A
sua irmã também já não está com ele.
As
memórias sucedem-se, as viagens também, o trabalho quase frenético também. Os
sorrisos do seu avô «americano» que ‘obrigou’ a criar tal criatura, os da sua
bela mãe, os da sua irmã resistente, idem.
Talvez rápido demais para tanta informação criativa, familiar e política, em anos tão fundamentalmente agitados na América Latina e no mundo.
Um
filme triste sobre como será viver no seio de uma família movida, centrada e
encerrada dentro do trabalho de um génio. Como será sobreviver na ressaca da
ausência, do vazio, do eco extinto da criatividade exemplar de Astor Piazzolla,
que não desdenhava a expectativa necessariamente em pausa da pesca à linha dos tubarões?
jef,
maio 2019
«Piazzolla - Os Anos do Tubarão» (Piazzolla, Los Años del Tiburón) de
Daniel Rosenfeld. Argentina / França, 2018, Cores, 90 min.
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