quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Sobre o filme «A Vida Invisível» de Karim Aïnouz, 2019





















Este melodrama "tropical", segundo o seu realizador, Karim Aïnouz, é deveras interessante! Conta a história a partir do romance de Martha Batalha e teve a atenção especial «Un Certain Regard» de Cannes.

Na década de 1950, duas irmãs, Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler), são separadas durante a alma e o corpo da sua juventude. Uma parte para uma hipotética Grécia. A outra, para uma putativa Viena, Áustria. O filme conta a história dessa separação, dessa saudade, através de um Rio de Janeiro opressivo de calor e preconceitos, no declive dos bairros cariocas ou entre a vegetação dos morros atlânticos. Não teme o suor ou o sangue, o sexo como estrutura paralela ao drama. Talvez risível. Os corpos desejados ou amedrontados, conquistados ou cedidos, contêm o próprio cerne da saga familiar, baseada em duas mulheres que não se vergam e nunca choram.

Se na estafada rotina da telenovela, o teatro sucumbe ao esgar apalhaçado de expressionismo cosmético, em «A Vida Invisível» a técnica dramática é extraordinariamente clara: o espectador é que tem de receber a lágrima, o pathos, numa circunstância narrativa de romance oitocentista. O espectador vê-se obrigado a aguardar o ápice emocional.

E no final, esse climax está nas mãos e no corpo, no rosto, soberbos, da enorme Fernanda Montenegro! Viva o teatro!

jef, fevereiro 2020

«A Vida Invisível» de Karim Aïnouz. Com Julia Stockler, Carol Duarte, Flávia Gusmão. Com Julia Stockler, Carol Duarte, Flávia Gusmão, Fernanda Montenegro, Gregório Duvivier, António Fonseca, Flávia Gusmão, Cristina Pereira. Segundo o romance «A Vida Invisível de Eurídice Gusmão» de Martha Batalha. Brasil / Alemanha, 2019, Cores, 139 min.

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