Este melodrama "tropical", segundo o seu realizador, Karim
Aïnouz, é deveras interessante! Conta a história a partir do romance de Martha
Batalha e teve a atenção especial «Un Certain Regard» de Cannes.
Na década de 1950, duas irmãs, Eurídice (Carol Duarte) e Guida
(Julia Stockler), são separadas durante a alma e o corpo da sua juventude. Uma parte
para uma hipotética Grécia. A outra, para uma putativa Viena, Áustria. O filme
conta a história dessa separação, dessa saudade, através de um Rio de Janeiro opressivo de
calor e preconceitos, no declive dos bairros cariocas ou entre a vegetação dos
morros atlânticos. Não teme o suor ou o sangue, o sexo como estrutura paralela ao drama. Talvez risível. Os corpos desejados ou
amedrontados, conquistados ou cedidos, contêm o próprio cerne da saga familiar,
baseada em duas mulheres que não se vergam e nunca choram.
Se na estafada rotina da telenovela, o teatro sucumbe ao
esgar apalhaçado de expressionismo cosmético, em «A Vida Invisível» a técnica
dramática é extraordinariamente clara: o espectador é que tem de receber a
lágrima, o pathos, numa circunstância narrativa de romance oitocentista. O
espectador vê-se obrigado a aguardar o ápice emocional.
E no final, esse climax está nas mãos e no corpo, no rosto,
soberbos, da enorme Fernanda Montenegro! Viva o teatro!
jef, fevereiro 2020
«A Vida Invisível» de Karim Aïnouz. Com Julia Stockler, Carol Duarte, Flávia
Gusmão. Com Julia Stockler, Carol Duarte, Flávia Gusmão, Fernanda Montenegro, Gregório
Duvivier, António Fonseca, Flávia Gusmão, Cristina Pereira. Segundo o romance «A
Vida Invisível de Eurídice Gusmão» de Martha Batalha. Brasil / Alemanha, 2019,
Cores, 139 min.
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