Há muito que um filme de acção não me punha os nervos em
franja como este.
Aos subúrbios de Paris, em Montfermeil, onde convergem (ou
divergem) raças, credos e culturas, chega o polícia Stéphane Ruiz (Damien
Bonnard) para integrar a brigada anti-crime liderada por Chris (Alexis Manenti)
e Gwada (Djebril Zonga), veteranos no controlo do crime através de métodos
menos ortodoxos e negociações pouco éticas entre grupos rivais. Numa certa
manhã de mercado, um pequeno leão é roubado de um circo de ciganos e um drone
vigilante filma a acção da polícia.
A primeira longa-metragem do realizador francês de origem maliana,
Ladj Ly, vem lembrar os
confrontos violentos há uns anos, nos arredores de Paris, e até pode ser
criticado por usar todos os estereótipos sociais e raciais do “bom ladrão” e do
“mau polícia” (e todos sabemos como, hoje em dia, é perigoso embandeirar em
fórmulas sociais tantas vezes baseadas no preconceito ou provocando preconceitos), mas «Os Miseráveis» tem um tal poder narrativo na montagem das cenas e na
composição das personagens, provocando um suspense em crescendo, cena a cena, que
deixa o espectador literalmente em palpos de aranha.
Um filme a homenagear (e a fazer ler) «Os Miseráveis» de
Victor Hugo que, diz-se no filme, por ali viveu.
jef, fevereiro 2020
«Os Miseráveis» (Les Misérables) de Ladj Ly. Com Damien
Bonnard, Alexis Manenti, Djibril Zonga, Issa Perica,Al-Hassan Ly, Steve Tientcheu, Almamy Kanoute,
Jeanne Balibar. França, 2019, Cores, 102 min.
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