Este
é um filme importante sobre a Liberdade. Sobre o estranho poder que o Teatro
tem de dizer a verdade.
No
púlpito, diante do corpo morto de César (Giovanni Arcuri), Marco António (Antonio
Frasca) afiança que Bruto (Salvatore Striano) é homem honrado e que César seria
certamente um homem ambicioso, tal como afirmam os conspiradores nos Idos de
Março. Traz na mão o testamento do imperador e lê aos plebeus tudo quanto ele
deixou a cada um dos romanos. Solta-se das janelas com grades da prisão de alta
segurança Rebibbia, em Roma, um clamor gritado pelos figurantes: «Oh, Soberano
César! Morte aos traidores! Incendiemos-lhes as casas!». O feitiço vira-se
contra o feiticeiro e a batalha na planície de Filipos aproxima-se, fatídica.
Perante
uma plateia entusiasmada, «Júlio César» de William Shakespeare é levada à cena por
prisioneiros culpados de homicídio, tráfico de droga e organização ilícita.
Todos os actores se empenham na história sobre o assassinato de Júlio César.
Ali, nos ensaios e no palco esses mesmos prisioneiros-actores são eles mesmo,
são o próprio desejo de realidade e de dramática evasão.
Salvatore
Striano não consegue prosseguir o ensaio por lembrar-se de momentos funestos da
sua juventude. Existe no prisioneiro uma chama de representação que o
transporta naturalmente para o centro natural desta peça sobre a honra, o dever
e a amizade: Bruto. Mais tarde, lê-se no final, Salvatore Striano será
amnistiado e tornar-se-á actor.
Entre
ensaios, na cela, alguém reclama que eles não deviam ser tratados por
prisioneiros mas sim por “observadores de tecto”, já que tanto tempo passam deitados
na cama a olhá-los.
No
final, após o sucesso da estreia, todos regressam ao encarceramento. Cosimo
Rega (Cássio) prepara um café e declara: «Desde que descobri a arte esta cela
tornou-se uma prisão.»
Em
2012, o 62º Festival de Berlim encerra com «César Deve Morrer» e entrega-lhe o
Urso de Ouro.
Repetindo.
Não existe filme mais belo sobre a estranha capacidade que
o Teatro tem de, pela máscara, apresentar a verdadeira face da realidade.
jef,
fevereiro 2021
«César
Deve Morrer» (Cesare Deve Morire) de Paolo Taviani e Vittorio Taviani. Com Cosimo
Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Frasca, Juan Dario Bonetti, Vincenzo
Gallo, Rosario Majorana, Francesco De Masi, Gennaro Solito, Vittorio Parrella, Pasquale
Crapetti, Francesco Carusone, Fabio Rizzuto, Fabio Cavalli, Maurilio Giaffreda.
Argumento: Paolo Taviani e Vittorio Taviani, segundo a peça “Júlio César” de William
Shakespeare . Fotografia: Simone Zampagni . Música: Giuliano Taviani e Carmelo Travia. Itália,
2012, Cores, 76 min.
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