sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Sobre o filme «César Deve Morrer» de Paolo Taviani e Vittorio Taviani, 2012





























Este é um filme importante sobre a Liberdade. Sobre o estranho poder que o Teatro tem de dizer a verdade.

No púlpito, diante do corpo morto de César (Giovanni Arcuri), Marco António (Antonio Frasca) afiança que Bruto (Salvatore Striano) é homem honrado e que César seria certamente um homem ambicioso, tal como afirmam os conspiradores nos Idos de Março. Traz na mão o testamento do imperador e lê aos plebeus tudo quanto ele deixou a cada um dos romanos. Solta-se das janelas com grades da prisão de alta segurança Rebibbia, em Roma, um clamor gritado pelos figurantes: «Oh, Soberano César! Morte aos traidores! Incendiemos-lhes as casas!». O feitiço vira-se contra o feiticeiro e a batalha na planície de Filipos aproxima-se, fatídica.

Perante uma plateia entusiasmada, «Júlio César» de William Shakespeare é levada à cena por prisioneiros culpados de homicídio, tráfico de droga e organização ilícita. Todos os actores se empenham na história sobre o assassinato de Júlio César. Ali, nos ensaios e no palco esses mesmos prisioneiros-actores são eles mesmo, são o próprio desejo de realidade e de dramática evasão.

Salvatore Striano não consegue prosseguir o ensaio por lembrar-se de momentos funestos da sua juventude. Existe no prisioneiro uma chama de representação que o transporta naturalmente para o centro natural desta peça sobre a honra, o dever e a amizade: Bruto. Mais tarde, lê-se no final, Salvatore Striano será amnistiado e tornar-se-á actor.

Entre ensaios, na cela, alguém reclama que eles não deviam ser tratados por prisioneiros mas sim por “observadores de tecto”, já que tanto tempo passam deitados na cama a olhá-los.

No final, após o sucesso da estreia, todos regressam ao encarceramento. Cosimo Rega (Cássio) prepara um café e declara: «Desde que descobri a arte esta cela tornou-se uma prisão.»

Em 2012, o 62º Festival de Berlim encerra com «César Deve Morrer» e entrega-lhe o Urso de Ouro.

Repetindo. Não existe filme mais belo sobre a estranha capacidade que o Teatro tem de, pela máscara, apresentar a verdadeira face da realidade.

 

jef, fevereiro 2021

«César Deve Morrer» (Cesare Deve Morire) de Paolo Taviani e Vittorio Taviani. Com Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Frasca, Juan Dario Bonetti, Vincenzo Gallo, Rosario Majorana, Francesco De Masi, Gennaro Solito, Vittorio Parrella, Pasquale Crapetti, Francesco Carusone, Fabio Rizzuto, Fabio Cavalli, Maurilio Giaffreda. Argumento: Paolo Taviani e Vittorio Taviani, segundo a peça “Júlio César” de William Shakespeare . Fotografia: Simone Zampagni . Música: Giuliano Taviani e Carmelo Travia. Itália, 2012, Cores, 76 min.

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