domingo, 21 de fevereiro de 2021

Sobre o livro «Uma Paixão Simples» de Annie Ernaux, Livros do Brasil, Col. Miniatura, nova série #16, 2020. Tradução de Tereza Coelho.


 

 




 


 







 

Este livro parece sair de uma nova era da escrita no feminino.

Apesar de não existir, para mim e à partida, qualquer distinção de género na literatura, neste livro surge uma tão importante asserção perante os ditames de uma paixão assumida pelo lado da mulher que me faz pensar numa nova estratégia literária. Sem comiseração pela herança sexista masculina, sem falso pudor perante o corpo que se deseja numa paixão, sem peias ou normas literárias apaziguadoras. Este livro está entre o conto e a novela, pelo meio da crónica, do diário, das memórias… Realmente é a história comum de «Uma Paixão Simples», e da sua inevitável vocação obsessiva pelo desejo e pela espera, pela chegada breve e pela ausência longa de quem se ama apaixonadamente. E conclui:

«Ele tinha-me dito não vais escrever livro nenhum sobre mim. Transformei, simplesmente, em palavras – que ele não vai ler, sem dúvida, que não lhe são destinadas – aquilo que a sua existência, só por si, me trouxe. Uma espécie de dádiva invertida.»

Em «Uma Paixão Simples» parece rescrever-se, de modo desabrido e por linhas tão puras quanto resistentes um universo muito francês, belo e luminoso, que nos chega pelas mãos de Marguerite Duras, Alain Resnais ou Jean-Luc Godard.

«Uma Paixão Simples». Um livro tão breve quanto inevitável!

jef, fevereiro 2021

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