Este é um filme que me
parece, de certo modo, perigoso. Não que eu queira estar sempre a vasculhar no
lado político, ou moral ou ético de uma obra de arte (que é óbvio que têm) mas
porque, neste caso, o absurdo não compensa o lado convincentemente
melodramático colocado pela actriz Vicky Krieps na personagem de Clarisse (a lembrar por vezes a actriz Beatriz Batarda). Uma
mãe de duas crianças abandona o lar e pega no carro em fuga sem destino nem
hora de regresso, deixando-as definitivamente a cargo do pai, Marc (Arieh
Worthalter). Tudo contado em fracções de tempo anacrónicas e de espaço segmentadas,
numa gestão de 97 minutos (fotograficamente atraente) que deixa as
personagens mais perdidas no non sense
do que o próprio espectador.
E se o pretensiosismo do autor
do argumento, com aquele final híper-trágico (que quase se torna cómico), pretende
dar uma lição a uma mãe atormentada, desenraizada, desnorteada, remoendo o
drama de permanecer a amar quem se viu obrigada a abandonar, desconhece certamente
quantos casos clínicos de maternidade falhada existentes pelo mundo. E não se
brinca assim com coisas tão sérias!
Saudades de «O Quarto
Azul» (2014), «Barbara» (2017) ou mesmo «Tournée - Em Digressão» (2010).
jef, janeiro 2022
«Abraça-me com Força» (Serre
moi fort) de Mathieu Amalric. Com Vicky Krieps, Arieh Worthalter,
Anne-Sophie Bowen-Chatet, Sacha Ardilly, Juliette Benveniste, Aurèle Grzesik.
Argumento: Mathieu Amalric com base na peça de teatro de Claudine Galea.
Produção: Yael Fogiel, Laetitia Gonzalez. Fotografia: Christophe Beaucarne. França,
2021, Cores, 97 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário