sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Sobre o filme «Abraça-me com Força» de Mathieu Amalric, 2021














Este é um filme que me parece, de certo modo, perigoso. Não que eu queira estar sempre a vasculhar no lado político, ou moral ou ético de uma obra de arte (que é óbvio que têm) mas porque, neste caso, o absurdo não compensa o lado convincentemente melodramático colocado pela actriz Vicky Krieps na personagem de Clarisse (a lembrar por vezes a actriz Beatriz Batarda). Uma mãe de duas crianças abandona o lar e pega no carro em fuga sem destino nem hora de regresso, deixando-as definitivamente a cargo do pai, Marc (Arieh Worthalter). Tudo contado em fracções de tempo anacrónicas e de espaço segmentadas, numa gestão de 97 minutos (fotograficamente atraente) que deixa as personagens mais perdidas no non sense do que o próprio espectador.

E se o pretensiosismo do autor do argumento, com aquele final híper-trágico (que quase se torna cómico), pretende dar uma lição a uma mãe atormentada, desenraizada, desnorteada, remoendo o drama de permanecer a amar quem se viu obrigada a abandonar, desconhece certamente quantos casos clínicos de maternidade falhada existentes pelo mundo. E não se brinca assim com coisas tão sérias!

Saudades de «O Quarto Azul» (2014), «Barbara» (2017) ou mesmo «Tournée - Em Digressão» (2010).


jef, janeiro 2022

«Abraça-me com Força» (Serre moi fort) de Mathieu Amalric. Com Vicky Krieps, Arieh Worthalter, Anne-Sophie Bowen-Chatet, Sacha Ardilly, Juliette Benveniste, Aurèle Grzesik. Argumento: Mathieu Amalric com base na peça de teatro de Claudine Galea. Produção: Yael Fogiel, Laetitia Gonzalez. Fotografia: Christophe Beaucarne. França, 2021, Cores, 97 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário