segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Sobre o filme «O Bom Patrão» de Fernando León de Aranoa, 2021


















Digamos que calha mesmo bem estrear esta comédia desabrida numa altura em que tanto se fala de liberalismo e de bons patrões que recebem incentivos estatais e depois, muito natural e voluntariamente, vão distribuir os lucros assim conseguidos (quais robins dos bosques!), pelos diligentes e afanosos operários. A sociedade prospera, o sol brilha e ficamos todos felizes.

Esta comédia lembra aquelas peças de teatro com muitas portas por onde saem e entram personagens num frenesim esgrimindo muitos enganos e tropelias. Só que aqui poucas portas existem e são de vidro. O equilíbrio é o centro da intriga já que a fábrica é construtora de balanças industriais e o respectivo dinamómetro é Javier Bardem, o patrão Blanco, vestindo um hiperactivo executivo com toques de familiaridade e magnanimidade e tiques de ambição e ganância desmedidas. A todo custo quer vencer o prémio concedido pelo governo regional e de que a sua fábrica é finalista.

O argumento é bem ardiloso e Javier Bardem faz de um troca-tintas manhoso e cândido, mestre em esquivar-se das imparáveis situações mais confrangedoras, numa espécie de corrida para o disfarce e camuflagem. Apenas parece ser superado pela três grandes figuras que ele nunca consegue enganar, personagens interpretadas por três grande actores: a esposa Adela (Sonia Almarcha), a jovem amante Liliana (Almudena Amor) e o insuperável operário, velho e deprimido, Fortuna (Celso Bugallo). Basta atentar na grande cena que é o jantar que o casal dá à família da estagiária Liliana e na impagável cena final em que Fortuna permanece imperturbável vigiando as costas do patrão de berbequim eléctrico em riste.

Pois Ruis Nabeiros não há muitos e o liberalismo modernista não caberá, deste modo, ganancioso e belicoso que é, nesta comédia divertidíssima.


jef, janeiro 2022

«O Bom Patrão» (El Buen Patrón) de Fernando León de Aranoa. Com Javier Bardem, Manolo Solo, Almudena Amor, Óscar de la Fuente, Sonia Almarcha, Fernando Albizu, Tarik Rmili, Celso Bugallo, Rafa Castejón Francesc Orella, Martín Páez, Mara Guil, Eva Rubio. Argumento: Fernando León de Aranoa. Produção: Fernando León de Aranoa, Jaume Roures. Fotografia: Pau Esteve Birba. Música: Zeltia Montes. Espanha, 2021, Cores, 120 min.

 

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