quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Sobre o filme «Correu Tudo Bem» de François Ozon, 2021
















Este é um filme muito interessante. Um filme político sobre a justiça, a brutal ilegalidade e a premência da eutanásia. É o seu propósito primeiro.

Contudo, François Ozon consegue colocar o tema actualíssimo sem o deixar cair em nenhuma das armadilhas: pieguice, moralice, politiquice, reliogice. Centra-o onde ele deve estar, na liberdade autónoma e declarada de quem não suporta viver mais dentro do sofrimento e da doença irremediáveis. E quase faz disso uma comédia, com suspeição, suspense, denunciantes e polícias.

E se no centro está um velho colecionador de arte, o egocêntrico e hedonista André Bernheim, muito bem suportado pelo actor André Dussollier (embora naturalmente enclausurado na máscara de um AVC), toda a força está nas mulheres que ele foi rejeitando: a própria mulher Claude (Charlotte Rampling) e as duas filhas, Pascale (Géraldine Pailhas) e Emmanuèle (a excepcional Sophie Marceau).  Como elemento verdadeiramente apaziguador entra em cena a maravilhosa e quase desaparecida, a Hanna Schygulla, o elemento de contacto da organização suíça.

Todo o filme é emoldurado por uma colecção de obras de arte plástica contemporânea muito interessantes e uma banda sonora que integra peças divinas de Brahms, Beethoven e Schubert.

Por isso, não sendo uma obra prima, é um filme sem dúvida a não perder.


jef, janeiro 2022

«Correu Tudo Bem» (Tout s'est bien passé) de François Ozon. Com Sophie Marceau, André Dussollier, Géraldine Pailhas, Hanna Schygulla, Grégory Gadebois, Éric Caravaca, Charlotte Rampling, Judith Magre, Quentin Redt-Zimmer, Jacques Nolot, Aymen Saïdi, Lamine Cissokho. Argumento: François Ozon e Philippe Piazzo, segundo do romance de Emmanuèle Bernheim. Fotografia: Hichame Alaouie. Música: Julien Roig + Piano Sonata n° 3 in F Minor Op.5 (Brahms); Trio n°4 en Si Bémol Majeur op.11 e Piano Sonata n°32 in C Minor, op. 111 (Beethoven); Piano sonata n°21 in B Flat Major e Fantaisie en Fa Mineur D 940 (Schubert); Windless Waters de Russell Manning; Shenyang de Kevin Macleod. França, 2021, Cores, 113 min.

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