O
disco no leitor e logo me vem à cabeça o LP do Chico Buarque «Construção»
(1971) (também «Morte e Vida Severina» - 1966) e como aquele circulava às
escondidas no Portugal fascista. Um disco inesquecível caído num país e numa época
para esquecer (e para lembrar).
Ontem,
em Brasília, um enorme grupo de grunhos invadiu as sedes dos poderes
democráticos brasileiros, destruindo, ululando, praguejando, rindo, bebendo,
rezando.
Por
tudo isto, pela memória e pelo mundo presente, «Samba de Guerrilha» de Luca
Argel revela-se o mais belo antídoto para o estupor que se assiste por aí. Este
álbum é constituído por música de combate, por 10 sambas (ou proto-sambas) de
guerrilha que se inscrevem na história da luta do povo brasileiro, principalmente
aquele de pele negra, 700.000 de seu número, que foi levado escravizado para o
maior país da América do Sul.
Mas
entre as 10 canções de guerra, escravatura, protesto e revolta, a voz doce de
Telma Tvon narra a história que as circunscreve, as motiva e enquadra na grande
História moderna e contemporânea brasileira.
Um
disco entusiasmante que surge tão simples de ouvir entre as belas vozes, uma
mais grave, a de Telma, e a de tessitura mais alta, a de Luca.
Um
disco político que obriga a ouvi-lo com toda atenção como um áudio-livro. Um
álbum que aquece a alma e a consciência com uma dezena de canções maravilhosas.
Um disco que, hoje, afinal se torna ainda
mais urgente!
“O
que adianta eu trabalhar demais
Se o
que eu ganho é pouco?
Se
cada dia eu vou mais pra trás
Nessa
vida levando soco?
E
quem tem muito tá querendo mais
E
quem não tem tá no sufoco
Vamos
lá rapaziada, tá na hora da virada
Vamos dar o troco
Vamos
botar lenha nesse fogo
Vamos
virar esse jogo
Que
é jogo de carta marcada
O
nosso time não está no degredo
Vamos
à luta sem medo
Que
é hora do tudo ou nada”
Noca
da Portela (“Virada”)
jef, janeiro 2023
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