O
filme é uma violentíssima tragédia que se inicia como alta comédia e que, até
ao final, usa a estrutura das loucas e rápidas comédias de enganos para acentuar,
a par e passo, o crescente dramatismo de cada uma das cenas (ou dos “gags”).
Os
risos surgem na sala quando o paupérrimo operário de construção Shakib (Mohsen
Tanabandeh), viúvo e órfão do filho, ambos mortos num terramoto e abandonado
pela família com a injusta acusação de não os ter vindo socorrer, é contratado
para a edificação do cenário de um filme sobre as atrocidades nazis num campo
de concentração e, por razões do acaso, é escolhido para interpretar o papel de
Adolf Hitler. Shakib poderá estar no caminho triunfante da fama.
Mas
qualquer coisa de profundamente desconfortável instala-se em torno do
personagem principal que nunca sorri. Intolerável, depois insuportável. Não,
não é Brian, perseguido por ser confundido com Jesus Cristo (Monty Python,
1979), nem Charlie Chaplin a fazer de «Grande Ditador» (1940), nem Roberto
Benigni em «A Vida é Bela» (1997). Aqui não volta a dar, o cenário de um filme
sobre o holocausto é muito melhor do que a vida de um pobre iraniano que se
apaixona por uma prostituta surda-muda.
O
grande trunfo do realizador são essas filmagens em aceleração constante, câmara
junto das caras e dos corpos que correm e angustiam, algumas cenas de horizonte
para desanuviar a tensão e mostrar, em modo fantástico, uma casa vermelha a andar
estrada fora. Também um argumento que, mais uma vez, usa os truques rápidos das
comédias de hotel americanas para dirigir o filme até ao desenlace final. O
espectador deseja um alívio mas este não lhe é permitido. Principalmente nas
cenas finais. Toda a tragédia sobre os ombros de um extraordinário actor que
poderia ser um Buster Keaton se a vida no Irão permitisse.
É
caso para lembrar a canção na voz de Tracy Thorn: “You´re a little Hitler now /
And you grow up Heaven knows how / Little Hitlers, little Hitlers / Grow up into
big Hitlers / And look what they do” (Everything But The Girl, 1986).
Com
o cinema iraniano é mesmo caso para repetir: Hollywood para que te quero!
jef,
janeiro 2023
«III
Guerra Mundial» (Jang-e jahani sevom) de Houman Seyedi. Com Mohsen
Tanabandeh, Mahsa Hejazi, Neda Jebraeili, Navid Nosrati, Hossein Norouzi.
Argumento: Houman Seyyedi, Arian Vazirdaftari, Azad Jafarian. Produção: Houman
Seyyedi. Fotografia: Payman Shadmanfar. Música: Bamdad Afshar. Irão, 2022, Cores,
117 min.
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