terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Sobre o filme «A Noiva» de Sérgio Tréfaut, 2022










O mais trágico de uma tragédia é o que fica por explicar. É isso que não deixa cair os panos negros do luto sobre a história. Panos negros, sujos e tingidos que escondem a resignação das viúvas, o choro das crianças até aos cinco anos. (As outras não existirão em breve, soterradas pelos escombros e pela poeira). Também a adesão de muitos jovens quase adolescentes ocidentais à causa radical aterradora do Daesh e do Estado Islâmico. Podem ter estes terminado mas as ruínas do Iraque, da Síria, do Curdistão ficarão para sempre… Ficará por explicar por que Umm ou Bárbara (Joana Bernardo) convence o pai (Hugo Bentes), caso a sentença seja fatal, a criar os filhos e por que ela própria deseja a morte, benévola e duradoura.

Tal como o Holocausto, a história de Bárbara no filme de Sérgio Tréfaut fica a meio, e não tem início, e não tem fim. É quase uma curta-metragem a caminho ou a fugir de um paraíso inexistente, a recusar oferecer o documentário impossível, a moralidade exigida pela reportagem. Porém, ficarão a beleza escondida pelo preto do olhar silencioso de Bárbara, a angústia interior, revolta conformada, dos olhos de seu pai.


jef, janeiro 2023

«A Noiva» de Sérgio Tréfaut. Com Joana Bernardo, Hugo Bentes, Lola Dueñas, Hussein Hassan Ali, Rekish Shahbaz, Saman Mustefa, Adil Abdulrahman, Zirek, Makena Diop, Dinis Gomes, Bengin Ali, Abdilqadir Bamarni, Naima Abdo, Fatma Ali. Argumento: Sérgio Tréfaut. Produção: Sérgio Tréfaut. Fotografia: João Ribeiro. Música: Rowal Gelal. Portugal, 2022, Cores, 81 min.

 

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