O
mais trágico de uma tragédia é o que fica por explicar. É isso que não deixa cair
os panos negros do luto sobre a história. Panos negros, sujos e tingidos que
escondem a resignação das viúvas, o choro das crianças até aos cinco anos. (As
outras não existirão em breve, soterradas pelos escombros e pela poeira).
Também a adesão de muitos jovens quase adolescentes ocidentais à causa radical
aterradora do Daesh e do Estado Islâmico. Podem ter estes terminado mas as
ruínas do Iraque, da Síria, do Curdistão ficarão para sempre… Ficará por
explicar por que Umm ou Bárbara (Joana Bernardo) convence o pai (Hugo Bentes), caso a sentença seja fatal, a
criar os filhos e por que ela própria deseja a
morte, benévola e duradoura.
Tal
como o Holocausto, a história de Bárbara no filme de Sérgio Tréfaut fica a
meio, e não tem início, e não tem fim. É quase uma curta-metragem a caminho ou
a fugir de um paraíso inexistente, a recusar oferecer o documentário
impossível, a moralidade exigida pela reportagem. Porém, ficarão a beleza escondida pelo preto do olhar
silencioso de Bárbara, a angústia interior, revolta conformada, dos olhos
de seu pai.
jef,
janeiro 2023
«A
Noiva» de Sérgio Tréfaut. Com Joana Bernardo, Hugo Bentes, Lola Dueñas, Hussein
Hassan Ali, Rekish Shahbaz, Saman Mustefa, Adil Abdulrahman, Zirek, Makena Diop,
Dinis Gomes, Bengin Ali, Abdilqadir Bamarni, Naima Abdo, Fatma Ali. Argumento: Sérgio
Tréfaut. Produção: Sérgio Tréfaut. Fotografia: João Ribeiro. Música:
Rowal Gelal. Portugal, 2022, Cores, 81 min.
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