Não
sei por que razão, este filme, revisto no grande ecrã cerca de 30 anos depois,
recordou-me o filme de Vittorio De Sica «O Milagre de Milão» (1951). Karol
Karol (Zbigniew Zamachowski), o polaco que se vê espoliado do casamento, da casa
em Paris, do seu grande amor, Dominique (Julie Delpy), regressa a casa do
irmão, na Polónia, ajudado pelo jogador de bridge Mikolaj (Janusz Gajos). Mal
vestido e angustiado, à porta do tribunal onde receberá a sentença de divórcio,
um pombo voa e acaba por lhe sujar a gabardina poida. Tudo parece
conjugar-se para entabular uma tragédia definitiva.
Qualquer
coisa (de palhaço pobre) em Karol se assemelha ao supostamente miserável adolescente
Totò (Francesco Golisano), recém-nascido encontrado numa horta entre repolhos
nos subúrbios milagrosos de Milão.
E
tal como neste filme, afinal também Karol, aproveitando a aura de ingenuidade
quase infantil, possui dotes e poderes de mover a montanha da bondade para que
a sociedade em seu redor cresça em harmoniosa concórdia e justiça social,
derrotando meliantes e oportunistas.
Afinal,
«Três Cores: Branco» é uma comédia inspiradora, quase filme de suspense, onde o
amoroso e desvalido palhaço pobre se transforma em amoroso e triunfante palhaço
rico.
Um
filme sobre o interior ficcional de cada um de nós, fotografado sobre a neve
por Edward Klosinski e musicado pela melodia quase judaica da partitura de Zbigniew
Preisner. Um filme claro e auspicioso.
jef,
janeiro 2023
«Três
Cores: Branco» (Trois couleurs: Blanc) de Krzysztof Kieslowski. Com
Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr, Aleksander
Bardini, Grzegorz Warchol, Cezary Harasimowicz, Jerzy Nowak, Jerzy Trela, Cezary
Pazura, Michel Lisowski, Philippe Morier-Genoud, Piotr Machalica, Francis
Coffinet, Barbara Dziekan. Argumento: Krzysztof Kieslowski, Krzysztof
Piesiewicz. Produção: Yvon Crenn, Marin Karmitz. Fotografia: Edward
Klosinski. Música: Zbigniew Preisner. França, 1994, Cores, 91 min.
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