terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Sobre o filme «120 Batimentos por Minuto» de Robin Campillo, 2017















A Política e a Morte.
O filme inicia-se com a intervenção de um grupo de activistas da Act Up Paris durante uma conferência governamental sobre o combate ao VIH e à Sida. Invasão de palco, discurso interrompido por palavras de ordem, sangue artificial atirado ao orador (antes do planeado), este algemado (sem prévia aprovação). Uma mão suja de sangue a encher o ecrã do retroprojector.
O tempo dos retroprojectores. Paris, anos noventa, a epidemia alastra arrastando para a morte muitos jovens homossexuais, toxicodependentes, prostitutas… Era preciso agir contra o tempo. Era preciso viver e esclarecer. Exigir intervenção do Estado, das Seguradoras, rapidez na investigação médica, das farmacêuticas.
A segunda cena passa-se onde praticamente todo o filme acontece. No anfiteatro de uma escola onde os activistas se reúnem para discutir as acções passadas e planear as acções futuras. Um veterano explica aos caloiros como se processam as assembleias.
A partir dali é política!
Discute-se com raiva e alegria a Morte breve e a intervenção pública. Fala-se do que é o pacifismo e a violência. Confronta-se, numa das cenas mais emblemáticas do filme, a diferença entre «mandar para a prisão!» e «reclamar por justiça». Há zanga e pede-se para que todas as discussões sejam feitas no interior da sala.
Há muito que não via um filme sobre acção política. Sem comiseração ou constrangimento, sem complexos ou clichés, mas onde a narrativa comove  e explica uma época onde o medo da morte e o escoar da vida eram sofridos no interior de solidão extrema e da incompreensão social por um problema político de dimensão universal.
Um dos filmes do ano.

jef, dezembro 2017

1 comentário:

  1. Vi este filme, e esta síntese dá conta do essencial, só acrescentaria o aspecto das relações de amor (e de ódio) que se estabelecem entre os activistas. E concordo que é raro que uma ficção centrada em homossexuais seja tão eminentemente política. É mais frequente essa perspectiva em documentais (como, por exemplo, o centrado em James Baldwin).

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