Este filme é maravilhosamente exagerado,
exacerbado, exorbitante. Deseja seguir os passos do romance de Emily Brontë
mas, acima de tudo, segue o génio simbólico de Luis Buñuel.
Entramos, assim, de chofre na casa e na
vida de Catalina (Irasema Dilián) e do seu marido, Eduardo (Ernesto Alonso), e
da cunhada Isabel (Lídia Prado). A primeira mata aves a tiro para não as fazer
sofrer. O segundo espeta alfinetes em borboletas vivas sob o olhar horrorizado da
irmã. Existe um ódio latente e uma paixão intrínseca e letal em toda a cena que
perdurará e adensar-se-á ao longo de todo o filme. A morte anunciada é o
primeiro e último símbolo romântico (tal como era no «Conde Drácula» de Bram
Stoker ou em «Madame Bovary» de Flaubert!) A matança do porco, as rãs assadas
vivas, o insecto devorado pela aranha (que se pode esmagar com um pé, como diz o
alcoolizado Ricardo – Luis Aceves Castañeda). Ricardo, o irmão de Catalina cuja
quinta está hipotecada por dívidas de jogo a Alejandro (Jorge Mistral), esse
regressado das trevas, o odiado e eterno amante de Catalina. A casa onde estes vivem
é uma cripta escura, com escadarias e sombras tão fúnebres como as do mausoléu
profanado por Alejandro quando, no final e ferido de morte, tenta unir-se ao
cadáver de Catalina. Tal como a paisagem árida onde o triângulo Catalina-Alejandro-Isabel
se movimenta. Tal como os tenebrosos ramos das árvores ou as raízes onde ficaram
enterrados a faca, a corda e a lanterna dos sonhos da sua juventude…
A paixão assolapada, perversa, trágica, enlouquecida,
que se auto-mutila, se impede consumar, é o tema de três dos quatro filmes “mexicanos”
creditados por Buñuel no ano de 1953. É impossível escolher entre eles mas
«Monte dos Vendavais» é teatro com o grau máximo de pureza e de beleza!
jef, agosto 2019
«O Monte dos Vendavais» (Abismos de Pasión
/ Cumbres Borrascosas) de Luis Buñuel. Com Jorge Mistral, Irasema Dilián, Lídia
Prado, Ernesto Alonso, Luis Aceves Castañeda, Francisco Reiguera, Hortensia
Santoveña, Jaime González. Argumento: Luis Buñuel, Julio Alejandro e Dino
Maiuri baseado no romance Wuthering Heights de Emily Brontë. Fotografia: Agustín
Jiménez Música: Raúl Lavista sobre temas da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner.
Produção: Producciones Tepeyac / Oscar Dancigers e Abelardo Rodríguez. 1953,
México, P/B, 91 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário