«Preferiam amar mais e sofrer mais; ou amar menos e sofrer
menos? Esta é afinal, penso eu, a única, a verdadeira questão.»
Começa Julian Barnes sem rodeios. Explica depois, continuando
nos prolegómenos, que afinal, não é essa a questão primeira. Porque não é uma
questão de escolha. Se conseguimos controlar o sentimento será uma coisa a que
não se chamará amor. E cada um só contará uma história, a única história. E contá-la-á
tantas vezes a si próprio, por sobrevivência ou autocomiseração, que a verdade
se vai afastando ou aproximando sem aviso. É preciso ter cuidado, avisa o
protagonista que é cauteloso e vai iniciar a narração.
O escritor no seu jeito muito particular que é, em partes
iguais, claro, terno e impiedoso, narra uma história de felicidade, realmente
única, que, por inerência do étimo da palavra amor, transporta o grau adjacente
de sofrimento, como já avisara no início.
Julian Barnes, mestre em dizer tudo, explicitamente, mas por
poucas palavras, conta esta história entre dois seres saídos de mundos tão vizinhos
mas tão diferentes, cuja alegria se vai transformando não em desespero mas numa
certa melancolia tácita. Apesar de, como mais uma vez chamara a tenção, o
protagonista jamais se alimenta de autopiedade.
Julian Barnes é brilhante na confirmação de que a vida é bela
mas terrivelmente difícil e que o amor e o sofrimento não se podem colocar nos
pratos de uma balança mas sim sobre o paralelismo das linhas (e das vidas) que
se sobrepõem. «Vejo que o amor severo também é severo para quem ama», conclui.
[Sem razão explicável, quando acabei de ler o livro recordei
um dos filmes da minha vida. «Breve Encontro» de David Lean (1945). E não terá sido
apenas pelo modo como se escutam os concertos para piano. No filme, Laura e
Alec encontram-se sob o véu de Rachmaninov. No livro, Susan e Casey Paul ouvem
Prokofiev como ponto de fuga ou lógica de sedução.]
jef, agosto 2019
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