Ou me engano muito ou o primeiro filme de
Luis Buñuel, «Um Cão Andaluz», é o famosíssimo, o mais revisto, mais discutido,
mais estranhado, de toda a sua carreira. Um dos mais importantes filmes da
História do Cinema. Tem 18 minutos e não se explica, aliás como pretendiam os
argumentistas, Luis Buñuel e Salvador Dali, quando o escreveram em menos de uma
semana, baseado em sonhos recorrentes que iam contando um ao outro. Um filme que o lado racional do córtex
jamais explicará. Apenas interpretável pelo outro lado, o lado sensorial, dos
sentidos, o nosso lado ‘visível’. Olhado pelo olho impassível que logo nas primeiras
imagens-ícone é corrompido e vazado por uma lâmina afiada com esmero. Tocado
por uma mão corrompida pelo trabalho incessante das formigas, decepada depois.
Mãos que apalpam as mamas de uma mulher que se oferece mas se nega a ser 'corrompida' por um
homem-não-homem-sem-boca que arrasta com o esforço dois padres / dois
pianos de cauda / dois burros mortos e a sangrar. Nada que uma certa ‘caixa de esmolas’ não possa significar. Nada que não fique apaziguado por um passeio dado à beira-mar pelos
amantes. Um happy-end. O superlativo absoluto
do surrealismo de «Um Cão Andaluz»!
jef, agosto 2019
«Um Cão Andaluz» (Um Chien Andalou) de
Luis Buñuel. Com Pierre Batcheff, Simone Mareuil, Luis Buñuel, Salvador Dali,
Xaume Miravitlles, Marval, Fano Messon. Argumento: Luis Buñuel e Salvador Dali.
Fotografia: Albert Duverber. Sonorização em 1960 segundo indicação do
realizador com fragmentos da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner e tangos
argentinos. Restaurado em 1993. Produção: Luis Buñuel. 1929, França, P/B, 18
min.
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