Pouco importa se o livro vem classificado como
“autobiográfico” e se o autor dedica o livro a alguém com o mesmo nome do
segundo personagem principal. Esta é a história contada por três datas: 1984,
2007, 2016, e contém uma arquitectura narrativa que transforma qualquer “história comum”
num belo e emocional acto de leitura.
Realmente, é a história “comum” da atracção amorosa entre dois rapazes e que não pode (ou não quer) ser contada. Estamos na França rural,
em 1984. De um lado, Philippe Besson, filho de professor, tímido mas dotado,
entediado e convicto; do outro Thomas Andrieu, filho de agricultor, bela figura
e fugidio, voluntarioso mas reprimido.
A páginas tantas um personagem revê num álbum as fotografias
do casamento da mãe, que as vê regularmente, e diz: “deve gostar de se lembrar
da sua juventude”, ao que o narrador omnisciente corrige entre parêntesis “ou
então confunde juventude com felicidade; é uma confusão frequente.” Esta frase
parece ser o corolário, tantas vezes repensado, de outra frase que lhe ficou
gravada nas células, desde 1984: “Porque tu um dia hás-de partir e nós vamos
ficar.”
Thomas prevê o futuro: Philippe tornar-se-á escritor famoso e
completo, através dessa criação realista que é a ficção literária, a que a sua
mãe objecta dizendo-lhe: “Deixa-te de mentiras!”. Thomas partirá.
Realmente, é a história “comum” de amor entre jovens
homossexuais nos anos 80, antes do VIH surgir como alavanca de morte e transformação
social.
Esta é a história “tão comum” de um primeiro amor.
jef, junho 2020
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