«Seminal...»,
diria o crítico, curador, manager, marchand de artes que assim se
prezasse. Monóculo ao revirar do sobrolho, lenço de seda a sair do colarinho ou
do bolsinho do blazer de linho amarrotado, poucas falas, cenho façanhudo, barriga oitocentista, charuto
na ponta dos dedos, cofiando a bigodaça encerada.
Mas eu apenas vos digo desta obra, das primeiras de André
Ruivo, 50 exemplares, 44 páginas, 18x18 centímetros, que ele sempre teve tendência para a
numeração e os rectângulos de lados iguais, papel kraft a alternar com IOR,
colagem do titulo e agrafos manuais, avulso no corte das margens, a solicitar a
sujidade das mãos e do tempo, a gordura dos dedos, a cinza do cigarro, tão fora
de moda que pede leitura 22 anos depois:
«Musical! Apenas tão musical, tão literário, tão
predestinado!»
«Jack plays trombone at the
underground station».
O Jack toca trombone na estação de metropolitano. «Os cães
estão fartos de me morder as canelas» resmungou. Abandonou a rua e desceu
escadas abaixo.
«Só sei tocar esta» disse. A cara iluminou-se a laranja
quando acendeu o cigarro, e a corente de ar colou-lhe cinza à pele suada.
Começa o livro de todas as histórias futuras de André
Ruivo...
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