A
história da vespa-asiática é comum a tantas outras espécies exóticas que se
tornaram invasoras ao serem transportadas, voluntária ou involuntariamente, do
seu ecossistema, escapando-se e desenvolvendo as suas populações, depois, de
modo exponencial, no novo meio, favorável e, ainda, na ausência do controlo dos
seus predadores naturais. O facto de ser um animal não solitário torna ainda
mais preocupante a sua presença.
Das
várias subespécies deste himenóptero da família Vespidae, a Vespa velutina nigrithorax
foi assinalada oficialmente pela primeira vez em França em 2004. Provavelmente,
importada acidentalmente numa mercadoria de bens alimentares vinda da Ásia. A
sua distribuição asiática estende-se pelas regiões tropicais
e subtropicais do Norte da Índia e do Leste da China, Indochina e Indonésia, por
zonas montanhosas de clima ameno, adaptando-se assim, com facilidade, ao clima
temperado do Sul da Europa.
A
partir da região de Lot-et-Garonne, entre Bordéus e Toulouse, ocupou
rapidamente o Sudoeste de França. Em 2010 surgiu no Nordeste de Espanha. Em
2011 chegou à catalã Girona e, no ano seguinte, à Galiza.
A
vespa-asiática é bem distinta da vespa-europeia Vespa crabro Lineu, 1758. É um insecto bastante escuro
e um pouco maior do que a congénere autóctone. As obreiras medem entre 17 e 32 mm
conforme as características do alimento disponível, enquanto a rainha chegará
aos 35 mm de comprimento. O corpo é aveludado e sombrio, assim como os dois
pares de asas e as patas castanhas cujas extremidades são amarelo vivo, facto
que a nomeia e distingue. Cor que também apresenta em alguns segmentos
gástricos e numa banda dorsal do quarto segmento do abdómen. A cabeça é preta
com faces amarelo-alaranjado.
Em
Setembro de 2011, na região de Viana do Castelo, a espécie invasora foi confirmada
pela primeira vez em Portugal por entomólogos e apicultores. O investigador
José Manuel Grosso-Silva e o apicultor Miguel Maia (Associação Apícola Entre
Minho e Lima) confirmaram que dali os núcleos se expandiram pelo Noroeste e
Centro de Portugal. Actualmente, apenas o Baixo Alentejo e o Algarve ainda não
foram atingidos mas a sua ocupação será, muito provavelmente, inevitável.
Pretende evitar-se que os arquipélagos dos Açores e da Madeira sejam atingidos.
Como
as outras vespas, o seu ciclo de vida é anual e inicia-se na Primavera, quando
a rainha jovem acorda da hibernação, escondida ao abrigo do mau tempo mas fora
do ninho, em árvores, no solo ou em fissuras de rochas. Em Fevereiro-Março, a rainha
fundadora e fecundada irá em busca de alimento nutritivo à base de açúcares com
que se alimenta, procurando abrigo numa árvore oca ou numa construção onde
iniciará a postura, fundando a colónia, alimentando as larvas, entretanto
nascidas, com alimento proteico vindo das incursões de caça a colmeias de
abelhas domésticas Apis mellifera Lineu,
1758, mas também de outras vespas, moscas e demais artrópodes (em meio urbano,
é frequente o relato das suas visitas a talhos.) É, deste modo, iniciado o
ninho primário à base de fibras de celulose mastigadas, esférico e de tamanho
maior do que uma bola de ténis.
A
partir de Abril-Maio com o nascimento das fêmeas obreiras a colónia recrudesce
e mover-se-á para um ninho definitivo, geralmente suspenso de ramos de uma
árvore alta, podendo superar os 80 cm. Estes ninhos são claros e têm uma forma
arredondada, como uma gota, possuindo uma abertura lateral como saída.
Em
Setembro-Outubro, a colónia atinge o número máximo de indivíduos que pode ir
até 13.000 onde se incluem as potenciais rainhas fundadoras, que poderão chegar a algumas centenas. Em média, cada colónia pode gerar seis novos núcleos. Nascem os machos (um pouco maiores que as obreiras) e as
fêmeas sexuadas. Realiza-se a fecundação. Outono avançado, as futuras rainhas
deixam o ninho que será abandonado, no Inverno, por morte da rainha fundadora,
dos zangãos e das obreiras. Nessa altura, as novas rainhas hibernarão. Em
Portugal, constatou-se que o vespeiro, se a temperatura assim o permitir,
poderá continuar activo até à Primavera seguinte. Degradando-se com as intempéries, o ninho
não volta a ser ocupado.
A
vespa-asiática não será mais agressiva quando isolada, nem será possuidora de
um veneno mais activo do que o da vespa-europeia; mas será mais agressiva na
defesa do ninho, o que obriga a cuidado redobrado. A subespécie que ocorre em
Portugal parece ser menos agressiva do que as outras 14 subespécies. Contudo,
ainda sem predadores naturais como certas aves insectívoras, as suas
características vorazes de predação de abelhas domésticas e de outros
polinizadores essenciais, principalmente durante o Verão, colocam em risco, para
além da apicultura, de pomares e das culturas agrícolas, a diversidade
biológica dos invertebrados nos diversos ecossistemas. Como nota, pode-se dizer
que já existem referências de algum controlo por bútio-abelheiro Pernis apivorus, na Galiza.
Foi
criada oficialmente em Portugal uma estrutura bastante alargada, denominada “Comissão
de Acompanhamento para a Vigilância, Prevenção e Controlo da Vespa velutina” onde participam o ICNF,
o INIAV e a DGAV (veterinária), a GNR-SEPNA, a Proteção Civil, a Direcção-Geral
de Saúde, também as autarquias e os apicultores. Esta Comissão acompanha a implementação do "Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal", que estabelece as acções a executar para alertar e minimizar os danos da
invasão, das quais se destaca a recolha de avistamentos de vespas e ninhos em
todo o território. As ocorrências devem ser reportadas a qualquer entidade de segurança
ou autarquia, podendo também ser directamente registadas em STOPvespa (stopvespa.icnf.pt).
Acima de tudo, a sequente destruição dos ninhos não deve ser feita
de modo autónomo por quem os avista pois a sua perturbação ineficaz pode gerar
um ataque por parte das vespas e a posterior disseminação. Assim, estas
acções, em princípio nocturnas já que esta vespa é diurna e recolhe ao ninho
pela noite, devem ser sempre executadas por profissionais (bombeiros,
GNR-SEPNA, Protecção Civil).
É
importante proteger as abelhas domésticas até que surjam predadores naturais para
a vespa-asiática ou até aquelas aprenderem a proteger-se em redor da colmeia.
Foi referido que familiares asiáticas envolvem o predador com diversos
indivíduos batendo as asas energicamente provocando-lhe a morte pelo aumento
radical de temperatura.
jef, junho 2020
* zoologia
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