Não. Este filme não nos
conta os amores impossíveis de Marcello em «La Dolce Vita» de Fellini (1960),
nem a bela e improvável amizade entre Lorenzo e Aida de «A Rapariga da Mala» de
Zurlini, realizado onze antes.
Não é a preto e branco,
nem traz essa particular beleza deslumbrante que envolve o espectador adoçando a
trágica perspectiva da vida e do amor. Apenas o aviso no verso de Goethe, como
título: «La prima notte di quiete», a primeira noite de serenidade, a primeira
noite de calma que a morte nos concederá. (Uma poesia única cilindrada pelo
título português!)
Daniele Dominici (Alain
Delon), professor substituto de literatura encanta-se pelo enigmático rosto de
uma aluna, Vanina (Sonia Petrova). O seu casamento com Monica
(Lea Massari) chega ao fim, o grupo de amigos vive noite fora, entre o álcool e
o jogo de cartas a dinheiro. Há muito, a nobreza da família ruíra. O seu amor
adolescente suicidara-se. Ele veste um eterno sobretudo pêlo-de-camelo. A povoação costeira
de Rimini está envolta numa triste neblina, sempre cinzenta e doentia. A música
de Mario Nascimbene e a fotografia de Dario Di Palma não deixam margem para
dúvidas. Impedem o espectador de respirar fundo.
A beleza circunspecta e decadente, irónica e fatal de Alain Delon conclui o seu próprio epitáfio: «La prima notte di quiete».
Um belíssimo eoperárico hino a inconclusão humana.
jef, julho 2021
«Outono Escaldante» (La
Prima Notte di Quiete) de Valerio Zurlini. Director’s Cut. Com Alain Delon,
Giancarlo Giannini, Sonia Petrovna, Renato Salvatori, Alida Valli, Adalberto
Maria Merli, Nicoletta Rizzi, Salvo Randone, Lea Massari. Argumento: Enrico
Medioli, Valerio Zurlini. Fotografia: Dario Di Palma. Música: Mario Nascimbene.
Itália / França, 1972, Cores 132 min.
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