sexta-feira, 23 de julho de 2021

Sobre o filme «A Voz Humana» de Pedro Almodóvar, 2020
















Trinta minutos é pouco.

Claro que é impossível esquecer Anna Magnani filmada por Rossellini (L'Amore / La Voce Umana) nessa extraordinária recriação da peça de Jean Cocteau. Mas Tilda Swinton e Pedro Almodóvar não pretendem que alguém esqueça ou compare. Desejam um modo diverso de fazer teatro.

Tilda Swinton é, pelo seu lado, única a mover-se sem ruído pelo cenário construído à medida dos decores, do guarda-roupa, da luz, cores e definição estética da narrativa de Almodóvar. Cada espaço é uma cena e cada cena é construída entre muros, dentro do paralelepípedo do estúdio cinematográfico. Vazio. Como vazia é a espera pela chegada do amor ansiado mas definitivamente desaparecido.

Um truque de intimidade sem peias da criatividade de Pedro Almodóvar, a lembrar a técnica cénica e teatral de Federico Fellini em «O Navio» (1983). Tudo parece estar certo, límpido. Angustiante. Sem saída. Apesar do cão, do machado, do fogo. Da fuga e do luto finais.

Mas tudo surge ligeiramente apressado…

O que me parece é que o espectador, Jean Cocteau e Tilda Swinton mereciam mais tempo para levar a dor do abandono até à superfície iluminada da redenção.

Ou, então, era eu que precisava de mais tempo de cinema!


jef, julho 2021

«A Voz Humana» (The Human Voice) de Pedro Almodóvar. Curta-metragem. Com Tilda Swinton e o cão Dasch. Argumento: Pedro Almodóvar baseado na peça de teatro de Jean Cocteau. Produção: Agustín Almodóvar e Esther García. Fotografia: José Luis Alcaine. Música: Alberto Iglesias. Espanha, 2020, Cores, 30 min.

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