Talvez
o livro demonstre e defina a antiquíssima atracção ética que a botânica exerce
sobre o ser humano. Muito mais do que a alma aristotélica dos animais, essa
“anima” que os faz movimentar e concorrer em animação com o bicho-homem, a
permanência e imobilismo vegetais, o seu primeiro sustento e o eterno círculo
biológico ao longo das estações do ano, faz das plantas o espelho do eterno
retorno tão caro à filosofia do homem que recusa envelhecer.
É
na amável e fundamental ligação com o ente vegetal que se renova, na inevitável
proximidade à floração regenerativa, que o coração da lente fotográfica de José
Filipe se entrega. Uma espécie de ligação íntima, amorável e macroscópica que
nos expõe a raiz do entendimento do universo vegetal que vai percorrendo as dunas e o
sapal, ultrapassa areias e curvas de nível, atingindo o barrocal e a serra de
Tavira.
Caso
não fossem expostas explicações sumárias ao longo do texto, ou circunstanciais glossários
e listas de espécies, não entenderíamos tão bem a ligação geográfica
e edafo-climática entre aquelas espécies e o meio que as sustenta. Ideias
fortes vindas do profundo conhecimento que o autor tem do terreno. Mas, pelo
contrário, caso o livro tivesse a pretensão de compêndio botânico exaustivo,
deixaria para o pó das bibliotecas o enlevo estético, poder-se-ia dizer quase
romântico, que o livro nos oferece.
É
esse conhecimento pela estética, coisa que só ao humano é dado adquirir, e a que
José Filipe está particularmente atento, que demonstra e define todo o amor
pela botânica contido no mundo vegetal de Tavira. Um mundo grande e pequeno que
assenta num simples olhar, num sentimento único.
jef,
agosto 2021
Excelente descrição. Quase que estou a folhear o livro, que adivinho, como fotos soberbas.
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