domingo, 15 de agosto de 2021

Sobre o livro «Flores da Praia à Serra de Tavira» de José A.O. Filipe, Câmara Municipal de Tavira, 2020.





















































Talvez o livro demonstre e defina a antiquíssima atracção ética que a botânica exerce sobre o ser humano. Muito mais do que a alma aristotélica dos animais, essa “anima” que os faz movimentar e concorrer em animação com o bicho-homem, a permanência e imobilismo vegetais, o seu primeiro sustento e o eterno círculo biológico ao longo das estações do ano, faz das plantas o espelho do eterno retorno tão caro à filosofia do homem que recusa envelhecer.

É na amável e fundamental ligação com o ente vegetal que se renova, na inevitável proximidade à floração regenerativa, que o coração da lente fotográfica de José Filipe se entrega. Uma espécie de ligação íntima, amorável e macroscópica que nos expõe a raiz do entendimento do universo vegetal que vai percorrendo as dunas e o sapal, ultrapassa areias e curvas de nível, atingindo o barrocal e a serra de Tavira.

Caso não fossem expostas explicações sumárias ao longo do texto, ou circunstanciais glossários e listas de espécies, não entenderíamos tão bem a ligação geográfica e edafo-climática entre aquelas espécies e o meio que as sustenta. Ideias fortes vindas do profundo conhecimento que o autor tem do terreno. Mas, pelo contrário, caso o livro tivesse a pretensão de compêndio botânico exaustivo, deixaria para o pó das bibliotecas o enlevo estético, poder-se-ia dizer quase romântico, que o livro nos oferece.

É esse conhecimento pela estética, coisa que só ao humano é dado adquirir, e a que José Filipe está particularmente atento, que demonstra e define todo o amor pela botânica contido no mundo vegetal de Tavira. Um mundo grande e pequeno que assenta num simples olhar, num sentimento único.


jef, agosto 2021

1 comentário:

  1. Excelente descrição. Quase que estou a folhear o livro, que adivinho, como fotos soberbas.

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