A
ideia é muito cativante: a música, baseada em círculos programados digitalmente
e reproduzidos por sintetizadores, vai sendo, de modo progressivo, modificada
ao sabor de ligeiras adulterações genéticas praticadas sobre as amplitudes, os
hertz e os comprimentos das ondas.
Por
outro lado, a fita electromagnética da cassete, ao reproduzir também repetidamente
as faixas musicais, degradando-se, vai apresentando-nos sempre versões diversas
– ela própria uma compositora ladra!
A
linha sonora concêntrica sugere-nos os desenhos que vão sendo elaborados
pela caneta associada ao pantógrafo que circula como um pêndulo ao sabor da
gravidade. O desenho termina num ponto único, estático, no centro da prancheta quando
esta, por fim, pára.
Na
cassete «Knok Knok» as faixas aparecem metódicas, planificadas, graficamente
sonoras, em dobras circulares, mais ao menos cândidas, sob a égide electrónica
de Armando Teixeira e de Duarte Cabaça (bateria), provocando uma síntese no
nosso pantógrafo cardíaco.
Porém,
já o lado B vai entrado, surge uma espécie de suspensão sinfónica com as faixas
“P vs H” e “Acrílico Azul”, nas quais uma espécie de drum’n’bass estrutura a penumbra caótica. Um certo drum’n’bass que se estende já mais
arquitectónico em “Concêntrico”, a penúltima faixa do lado B.
Por
fim, e para que o ouvinte não se esqueça de que as cassetes têm sempre um lado
romântico e de veraneio e que os Balla não desdenham meter foice alheia na
seara cançonetista franco-italiana de décadas passadas, ouvimos essa longínqua
nostalgia: “O Último Verão”. Aqui, a bateria é de Diogo Andrade.
Além,
o design da capa é de Paulo Romão Brás.
jef,
setembro 2022
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