O primeiro filme da argumentista catalã Clara Roquet tem que se lhe diga e a narração, tão bem urdida, está ancorada em cenas, pormenores e decores que fazem
dele um objecto particular.
Duas
filhas a sair da infância para a adolescência, de sabores e dissabores comuns
mas tão especiais que se tornam sempre inesquecíveis. Também duas mães e duas avós. A separá-las apenas mais umas
férias grandes passadas na costa mediterrânica perto de Barcelona. Também a
morte e o Alzheimer, a dizer-lhes que aquele longo ciclo vai terminar.
Mas, acima de tudo, a diferença de classes. É fundamental, ali, o silêncio pela
inveja e pela disputa do amor maternal, também a calada subserviência que impede
a intimidade na amizade entre patroa e empregada.
A
cena dos vestidos comprados na feira é de uma subtileza de mestre. O almoço
entre filha e mãe em que a primeira se recusa a comer até que a aquela se afasta, e aquela depois devora a comida com apetite.
Libertad
(Nicolle García) é o nome de uma das filhas. Nora (Maria Morera) o da outra. O instinto
de ambas sabe que aquele Verão não se repetirá.
Dizem
que poucos temas existem na arte e na literatura. O do fim da inocência
infantil e da iniciação na vida adulta, será sem dúvida o primeiro.
Um
filme particular a reter no olhar e na memória das memórias.
jef,
agosto 2022
«Libertad»
de Clara Roquet. Com Maria Morera, Nicolle Garcia, Nora Navas, Carol Hurtado,
Carlos Alcaide, Òscar Muñoz, Sergi Torrecilla, Maria Rodríguez Soto, David
Selvas, Vicky Peña, Alejandro Clavería, Abel Montes, Juanjo Boldu, Mathilde
Legrand, Lucia Seoane. Argumento: Clara Roquet, Eduard Sola. Produção:
Ono Folguera, María Zamora, Sergi Moreno, Stefan Schmitzs. Fotografia: Gris
Jordana. Guarda-roupa: Vinyet Escobar. Música: Paul Tyan. Espanha / Bélgica, 2021,
Cores, 104 min.
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