quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Sobre o filme «Libertad» de Clara Roquet, 2021






















O primeiro filme da argumentista catalã Clara Roquet tem que se lhe diga e a narração, tão bem urdida, está ancorada em cenas, pormenores e decores que fazem dele um objecto particular.

Duas filhas a sair da infância para a adolescência, de sabores e dissabores comuns mas tão especiais que se tornam sempre inesquecíveis. Também duas mães e duas avós. A separá-las apenas mais umas férias grandes passadas na costa mediterrânica perto de Barcelona. Também a morte e o Alzheimer, a dizer-lhes que aquele longo ciclo vai terminar. Mas, acima de tudo, a diferença de classes. É fundamental, ali, o silêncio pela inveja e pela disputa do amor maternal, também a calada subserviência que impede a intimidade na amizade entre patroa e empregada.

A cena dos vestidos comprados na feira é de uma subtileza de mestre. O almoço entre filha e mãe em que a primeira se recusa a comer até que a aquela se afasta, e aquela depois devora a comida com apetite.

Libertad (Nicolle García) é o nome de uma das filhas. Nora (Maria Morera) o da outra. O instinto de ambas sabe que aquele Verão não se repetirá.

Dizem que poucos temas existem na arte e na literatura. O do fim da inocência infantil e da iniciação na vida adulta, será sem dúvida o primeiro.

Um filme particular a reter no olhar e na memória das memórias.


jef, agosto 2022

«Libertad» de Clara Roquet. Com Maria Morera, Nicolle Garcia, Nora Navas, Carol Hurtado, Carlos Alcaide, Òscar Muñoz, Sergi Torrecilla, Maria Rodríguez Soto, David Selvas, Vicky Peña, Alejandro Clavería, Abel Montes, Juanjo Boldu, Mathilde Legrand, Lucia Seoane. Argumento: Clara Roquet, Eduard Sola. Produção: Ono Folguera, María Zamora, Sergi Moreno, Stefan Schmitzs. Fotografia: Gris Jordana. Guarda-roupa: Vinyet Escobar. Música: Paul Tyan. Espanha / Bélgica, 2021, Cores, 104 min.

 

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