A proposta do filme
parece, em muitos sentidos, promissora: um hiato narrativo de 25 anos e o
confronto com a agressividade, a violência, os ritos, a praxe, o poder, a
dominação e, por fim, a culpa e a vingança, de um grupo de rapazes que se
tornaram respeitáveis cidadãos. Estamos no centro de Portugal, em Penamacor,
entre Meimão e a barragem da Meimoa, com um grupo de personagens que, aos
poucos, nos vão revelando o ódio, a dissimulação ou o rancor que transportam desde o seu passado. Tudo voltará ao presente se a assunção do erro e a sublimação da culpa
não forem efectivas.
Óptima ideia narrativa.
Contudo a realização
preocupa-se mais com a luz que entra pelos cenários do que com o espaço que
teria de dar aos magníficos actores para poderem dar azo à sua arte. Há um espaço e
um tempo narrativos que ficam reféns de uma presunção estética. Há um confronto
de violência bruta que teria de ser explorada em termos dramáticos e cénicos.
Há um abuso de pormenores descritivos e particularidades narrativas (e de cães) que tentam
caracterizar as personagens (e as suas relações) mas que se atropelam e baralham
os espectadores. Há um abuso de anti-moralidade não sustentada pela
correspondente linha filosófica sobre a violência, deixando as personagens (e
os actores) cair numa espécie de círculo vicioso entre a vingança e o
ridículo.
Ou sou eu que que acabo
de ver os 146 minutos de «Uma Mulher sob Influência» de John Cassavetes (1974)…
e fiquei assim.
[E, já agora, onde pára o nosso querido argumentista Rui Cardoso Martins?]
jef, setembro 2022
«Restos do Vento» de Tiago
Guedes. Com Albano Jerónimo, Nuno Lopes, João Pedro Vaz, Isabel Abreu, Gonçalo
Waddington, Leonor Vasconcelos, Maria João Pinho. Argumento: Tiago Rodrigues e
Tiago Guedes. Produção: Paulo Branco. Fotografia: Mark Bliss. Portugal,
França, 2022, Cores, 126 min.
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