domingo, 25 de setembro de 2022

Sobre o filme «Restos do Vento» de Tiago Guedes, 2022




















A proposta do filme parece, em muitos sentidos, promissora: um hiato narrativo de 25 anos e o confronto com a agressividade, a violência, os ritos, a praxe, o poder, a dominação e, por fim, a culpa e a vingança, de um grupo de rapazes que se tornaram respeitáveis cidadãos. Estamos no centro de Portugal, em Penamacor, entre Meimão e a barragem da Meimoa, com um grupo de personagens que, aos poucos, nos vão revelando o ódio, a dissimulação ou o rancor que transportam desde o seu passado. Tudo voltará ao presente se a assunção do erro e a sublimação da culpa não forem efectivas.

Óptima ideia narrativa.

Contudo a realização preocupa-se mais com a luz que entra pelos cenários do que com o espaço que teria de dar aos magníficos actores para poderem dar azo à sua arte. Há um espaço e um tempo narrativos que ficam reféns de uma presunção estética. Há um confronto de violência bruta que teria de ser explorada em termos dramáticos e cénicos. Há um abuso de pormenores descritivos e particularidades narrativas (e de cães) que tentam caracterizar as personagens (e as suas relações) mas que se atropelam e baralham os espectadores. Há um abuso de anti-moralidade não sustentada pela correspondente linha filosófica sobre a violência, deixando as personagens (e os actores) cair numa espécie de círculo vicioso entre a vingança e o ridículo.

Ou sou eu que que acabo de ver os 146 minutos de «Uma Mulher sob Influência» de John Cassavetes (1974)… e fiquei assim.

[E, já agora, onde pára o nosso querido argumentista Rui Cardoso Martins?]


jef, setembro 2022

«Restos do Vento» de Tiago Guedes. Com Albano Jerónimo, Nuno Lopes, João Pedro Vaz, Isabel Abreu, Gonçalo Waddington, Leonor Vasconcelos, Maria João Pinho. Argumento: Tiago Rodrigues e Tiago Guedes. Produção: Paulo Branco. Fotografia: Mark Bliss. Portugal, França, 2022, Cores, 126 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário