Anunciação
“Cassavetes”.
O
filme, a sua primeira obra, é-nos, por fim, apresentada textualmente como sendo
realizada sob a chancela da improvisação.
Também,
por isso, poderá ser contemplada como um improviso acelerado, um divertimento
ansioso, um scherzo jazzístico. Ou
seja, o melhor prefácio para um realizador que sempre ofereceu os filmes à
inata vocação dramática e cénica dos seus queridos amigos actores. Alguém que nunca hesitou
em deixar o improviso a cargo do close-up e do rodopio frenético da câmara que
corre atrás das suas personagens. Personagens que sempre fogem de si
próprias.
Cinema-improvisação.
Cinema-realidade.
Três
irmãos correm pela cidade e escondem-se no recôndito da sua pequena casa. Lelia
(Lelia Goldoni) deseja escrever, Ben (Ben Carruthers) tenta tocar trompete e Hugh
(Hugh Hurd) apresenta-se nos clubes nocturnos como cantor de jazz. Eles
e os amigos fazem pela vida e pela alegria de serem jovens. A geração beat paira ali, anti-materialista e sem poiso, livre e a roer as amarras da grande guerra. Vive
paredes meias com o jazz, ou mais concretamente com o tradição do bebop. Porém, a cidade corre mais do que eles,
respira mais fundo e não lhes dá grandes chances. Cassavetes prende, já aqui, as personagens à melancólica e expressionista herança do seu futuro
cinematográfico.
Um
futuro genial.
jef,
agosto 2022
«Sombras»
(Shadows) de John Cassavetes. Com Ben Carruthers, Lelia Goldoni,
Hugh Hurd, Anthony Ray, Dennis Sallas, Tom Reese, David Pokitillow, Rupert
Crosse, David Jones, Pir Marini, Victoria Vargas, John Cassavetes, Seymour
Cassel, Gena Rowlands. Argumento: John Cassavetes. Produção: Seymour
Cassel, Maurice McEndree. Fotografia: Erich Kollmar. EUA, 1959, P/B, 87 min.
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